21/12/2011

Alto do Pina - 18/12/2011




Lisboa tem de ter algum tipo de recorde para as salas mais bizarras utilizadas na organização de pequenos concertos underground. Não se consegue explicar o que é ver um concerto de punk, ou hardcore, numa sala como a Casa de Lafões. Aliás, contado, é mesmo impossível descrever o que é a Casa de Lafões. Mas eis que a bizarria da sala da Madalena ganha um concorrente de peso, mais habituado a outro tipo de bailaricos, mas igualmente cada vez mais habituado a trocar a marcha popular pelo two step. De novo, ninguém se acreditaria perante uma descrição cénica e de ambiente da sala do Ginásio do Alto do Pina. Não vou sequer tentar, deixo somente o repto para que, numa outra ocasião, a lá se desloquem. Nem que seja para, durante um qualquer concerto, levar com um pouco de estuque caído dos céus.

A tarde marcava o fim da mini tour encabeçada pelos LIFEDECEIVER e pelos Don’t Disturb My Circles, mas é um daqueles cartazes que, mais nacional, era impossível. Os LIFEDECEIVER vinham de Coimbra. Os Step Back! retornavam à capital vindos de Penafiel. Os A Thousand Words vinham do Algarve e, a receber todos este misto de sotaques, os lisboetas Pussy Hole Treatment e Don’t Disturb My Circles.

Os Pussy Hole Treatment terão ficado bastante agradados pelos problemas de logística iniciais que levaram a um atraso no início dos concertos. À hora marcada, teriam tocado para si e bandas restantes. Assim, a banda conseguiu desde logo reunir na sala cerca de 40 pessoas (que poderá soar pouco, mas tendo em conta a dimensão da sala e arrumação da mesma, significa a sala praticamente composta), desde o início. A banda, de cara lavada – isto é, novos membros, nada em relação aos hábitos higiénicos dos mesmos -, vai demonstrando o seu amadurecimento sonoro que, pontualmente, se vai desviando daquilo que conhecíamos da banda. Uma intro bastante melódica, por exemplo, é sintomático disso mesmo. Uma cover, bastante personalizada, diga-se, de Have Heart (“Lionheart”), idém. A banda compôs o seu set com incidência nas músicas do split lançado com Never Fail e no seu EP “Destroy Everything Now”, tendo ainda apresentado músicas novas, a lançar brevemente.

Sem dúvida a banda mais deslocada do cartaz - num género pouco habituado a este tipo de desvios musicais -, os Don’t Disturb My Circles tiveram de lutar contra isso mesmo e contra, ainda, problemas técnicos iniciais no seu set. A banda foi distribuindo hardcore caótico na onda de uns Everytime I Die, The Number Twelve Looks Like You ou, mesmo, Dillinger Escape Plan ou Converge. Riffs, como se disse, bastante caóticos, momentos bastante diferentes dentro da própria música, que simulam músicas dentro de músicas, numa espécie de musinception. Uma grande presença em palco (ou mesmo na ausência dele, face ao concerto se ter realizado no chão), bem em consonância com a música que ia sendo, permita-se-me, despejada. Uma banda que merece uma maior abertura de espírito do público, quando, como em cartazes como este, se encontra mais desviada. Mas, acima de tudo, uma banda que merece ganhar o seu próprio público, de um estilo ainda pouco desenvolvido por cá.

Mais tradicional será o som dos A Thousand Words, principalmente quando a banda ainda vai tocando as músicas presentes na sua demo e, por isso, mais antigas. A Intro da banda continua a fazer estragos e a ser a música mais concorrida em termos de adesão. Algo que, se acredita, poderá estar para mudar, bastante somente para isso a banda lançar finalmente algo novo. E este, nota-se, é o principal handicapda banda: falta de entrosamento e empatia com o público, motivado pelo desconhecimento do mesmo em relação aquilo que é tocado pela banda, que resulta na pouca adesão e participação do mesmo. É que, musicalmente, nada falha na banda. Nem mesmo com um membro de recurso a substituir um dos elementos full time da banda. É uma banda que tem uma presença como poucas. É uma banda que tem uma sensibilidade e uma técnica musical como poucas. É, sem dúvida, uma das principais bandas do hardcore nacional. A banda continua, então, a demonstrar o poder que as músicas novas têm e que só podem deixar excitado qualquer pessoa que goste de hardcore, precisando ainda assim, de ter um set mais fluido e sem tantos cortes. “Bottom Feeder” dos Rise & Fall terá, ainda, feito as delícias daqueles que gostam de ouvir covers de bandas famosas nos concertos.

Um dos casos mais enigmáticos do hardcore nacional, será sempre o dos LIFEDECEIVER. Poucas bandas são tão profissionais e apresentam um produto tão cuidado e tão pensado quanto esta. Não há como ficar indiferente, quando entramos na sala e temos uma tela de fundo gigante com a imagem da banda. Não há como ficar indiferente a uma banda que, na sua banca de merch, tem de tudo, de qualidade, e apelativo visualmente. Não há como ficar indiferente a lançamentos bastante trabalhados ao nível da imagem, que transmitem uma ideia de brio e profissionalismo que, muitas vezes, falha em demasiadas bandas (seja por decisão própria, ou manifesta falta de vontade ou visão). E, se tudo isto não bastasse, a banda musicalmente não tem, nem nunca teve, qualquer tipo de comparação a nível nacional e, é mesmo muito dificil encontrá-la a nível mundial. E talvez a estranheza daí possa advir. Mas é uma banda que, por tudo isto, vai demonstrando que terão de ser considerados uma das grandes bandas nacionais, mas, igualmente, uma das mais subvalorizadas. Os LIFEDECEIVER apresentavam, neste fim de semana, músicas dos novos releases que a banda tem preparados. O split com Utopium está já disponível e o split com Don’t Disturb My Circles para lá caminha. Músicas que, ainda assim, podem ser ouvidas na tape (também acabada de lançar), que contempla as músicas dos splits. Tudo isto compôs o set da banda, numa presença em palco irrepreensível que não deixa espaço a qualquer tipo de observação. Num set que, até uma falha de luz, parece fazer parte do próprio espéctaculo, face a toda a imagética e conceito da banda.

E todo o pó da sala foi tirado com o concerto dos Step Back!, tecto incluído. Se a banda já se havia mostrado em forma dias antes no Montijo, no Alto do Pina a banda esteve simplesmente dopada. Um concerto de banda grande que pouco terá ficado a dever aos mais que aclamados For the Glory, Devil in Me ou Reality Slap. E tudo acaba por ser ainda mais bonito quando, para além de uma banda em claro estado de graça (riffs e mais riffs, voz super versátil e groovy que faria corar de inveja vocalistas de bandas de nova iorque), e um som da sala sempre perfeito (mesmo tendo em conta as aparentes dificuldades de acústica da mesma), o público se rende desde o primeiro acorde – eu diria até que ainda nem tinha começado o acorde e já havia sides to sides, desde o “palco” até ao merch. -, à mesma. A banda foi desfilando algumas das músicas que já lançara, interpelou-as com música nova e deitou a sala abaixo com uma irónica “World Peace” dos Cro-Mags. A verdade, viu-se, é que a paz mundial não pode mesmo ser feita. Não num concerto de Step Back!.

13/12/2011

Montijo Hardcore - 27/11/2011


De regresso ao Montijo e, em estreia absoluta nestas lides, o hardcore visitou a Timilia das Meias, o novo centro cultural desta pequena cidade, mais habituada a outro tipo de... touradas. Ponto final da tour europeia para os algarvios Critical Point, a tarde contou ainda com a presença dos Hard to Deal, dos Shape e dos Step Back! - também eles de regresso aos concertos na zona de Lisboa.

Infelizmente, não foi uma muito concorrida Timilia das Meias, uma nova venue que aparenta apresentar condições de topo para receber este tipo de concertos, que recebeu de volta o hardcore no Montijo. Uma sala com um som perfeito e, diria até, o tamanho certo para este tipo de concertos. Faltou principalmente público local, - algo que é capaz de desmotivar o mais apaixonado dos promotores, totalmente imerecido por todo o dinamismo que os mesmos ao longo dos anos vêm imprimindo à cidade -, para acompanhar as cerca de meia centena de pessoas que assistiram a mais uma matiné hardcore.

Os Hard to Deal vão, a pouco e pouco, ganhando a consistência ao vivo que os tornará uma ainda melhor banda. Ficando, por isso, sempre a ideia, a cada concerto, de que se vira o até então, melhor concerto deles. A banda apresentou os temas do seu EP de estreia (“Never Ending Story”), bem como uma música nova – aparentemente intitulada “Carry On”, mas ainda não oficialmente -, que demonstra, só por si, o talento da banda e para a qual ficam reservadas grandes expectativas para a sua audição a um nível mais profissional. Sofrendo do estigma de banda recente, os Hard to Deal ainda não conseguem ter a adesão – merecida – do público, onde o mais perto disso terá acontecido durante a cover “I Saved Latin” dos American Nightmare.

Os Shape voltaram a incendiar uma sala por onde passam e, isto, tem bastante a ver com a fiel crew de apoio que sempre acompanha a banda. Num set claramente mais curto que o habitual na banda, não faltou ainda assim, a emoção que sempre os caracteriza, principalmente em músicas como Vampires ou Rotten Inside. A banda voltou a incluir a música “1992” dos lendários X-Acto no seu set, um momento que resulta sempre numa grande adesão do público.

Com o seu regresso a Portugal, os Critical Point deram por terminada a tour europeia que haviam iniciado a 4 de Novembro. Os algarvios são de uma espécie que parece já extinta em Portugal. Youth Crew clássico, sem merdas, de orientação posi e muito vegan straight edge pride. A verdade é, já não se fazem bandas assim. Uma banda que vive bastante do spoken word, com palavras sempre bastante conscientes. Os Critical Point apresentaram um set pautado por músicas da sua demo, do seu EP “Trial & Error” e ainda uma cover de Mainstrike e Judge que, “se algum straight não conhecer, se deve envergonhar”. A banda parece ir recebendo o mais que merecido reconhecimento do público – que ajudou acanhadamente o vocalista Rafael Madeira. Esta é uma banda cujos membros já muito deram ao hardcore português e uma das razões pelo qual o mesmo subsiste e acontece frequentemente em várias zonas do país. Algo que, não fora a qualidade da banda, deveria ser garante, por si só, de grande respeito e reconhecimento.

De regresso à zona de Lisboa, estavam os Step Back! Que ficaram encarregues de encerrar a tarde de concertos no Montijo. Limitado fisicamente, o vocalista da banda foi pedindo a adesão do público, desde que não se lhe tocasse em zonas sensíveis. Pelo menos, de forma agressiva, não sabendo qual a reacção que adviria de um toque mais carinhoso. Mas ninguém queria que houvessem “stitches out” que não somente musicais e, quanto a isso, tarefa cumprida. Numa palavra, o concerto dos Step Back! É groove. Uma voz super versátil e, como disse, groovy as fuck, colorida por riffs e mais riffs, aos quais parece, ainda assim, carecer de um outro acompanhamento a nível de guitarra. A banda foi apresentando um set bastante concorrido, de especial incidência sobre músicas mais recentes, ao qual não faltou uma fidelíssima cover de Cro-Mags (“World Peace”). Espera-se agora que os mercados financeiros melhorem para que a banda tenha viabilidade económica para se lançar na gravação de novos temas e um novo registo, quiçá, um longa duração.

Concertos como estes do Montijo são o exemplo da preserverança, do amor pelo hardcore e pela cena local, do empreendedorismo e do dinamismo que pessoas como o Filipe e o Fábio. E são também exemplos da importância que o “support your local scene” tem em pequenas cenas underground como Portugal. O repto que aqui deixamos, é o de apoiarem os Filipes e os Fábios da vossa terra. O hardcore não existe só nos grandes centros e nas bandas estrangeiras. O 4theKids só pode agradecer que concertos deste género vão continuando a acontecer pelo país, mesmo que não tenhamos a possibilidade de os frequentar.

26/09/2011

For The Glory, Grankapo, ColdBlooded, For Ophelia's Death e Hard to Deal, Cacilhas


Foi um praticamente cheio Revolver Bar, em Cacilhas, que recebeu de volta os For the Glory, na sua última data da recente tour europeia. A tarde era também marcada pelo apoio a instituições de beneficiência a pessoas carenciadas, através da angariação de produtos alimentícios para as mesmas. Mais um exemplo por aquilo que se deve pautar o hardcore: mais que um estilo de música, ter uma vertente e consciência social bem activa. A apadrinhar o regresso dos For the Glory, estavam ainda os Hard to Deal, os For Ophelia’s Death, os Cold Blooded e os Grankapo.

O concerto dos Hard to Deal vem no seguimento de um Setembro bastante movimentado, com vários concertos, um EP lançado e, ainda, uma distinção honrosa – valha o que isso valha – como banda da semana para o 4THEKIDS. E, foi esta experiência adquirida durante este mês, que mostrou uns Hard to Deal cada vez mais consistentes que em datas anteriores. Não só a nível sonoro, mas igualmente a nível de presença de palco. O set dos Hard to Deal foi, como se poderá calcular, incidente no seu recente trabalho “Never Ending Story” e foi ainda adornado com duas covers, de Life Long Tragedy e One Life Crew.

Para os For Ophelia’s Death não se afigurava tarefa fácil. Não só iriam tocar num alinhamento de bandas que fugia um pouco ao seu som, estando, por isso, algo desenquadrados do restante cartaz, como ainda se viam impossibilitados de tocar com baixista, por razões pessoais do mesmo. Um esforço que será de louvar, mas que não estamos certos de ter sido frutífero para a banda. A apresentar o seu recente EP, o For Ophelia’s Death não terão conseguido converter ou, sequer, convencer alguns dos presentes da sala. A falta do baixista foi claramente um handicap ao longo do concerto ficando, por isso, a necessidade de ver a banda em condições mais favoráveis.

Numa tarde de ausência de membros de bandas, também os Cold Blooded não puderam contar com o seu recente novo membro, o guitarrista João Fonseca tendo, por isso, voltado à sua formação mais clássica de quatro elementos e, somente, uma guitarra. Mas, neste caso, o som da banda não se ressentiu sobremaneira, até porque fora nessas condições que a banda quase sempre actuara. E os Cold Blooded estão, cada vez mais, e concerto a concerto, a tornar-se numa das grandes bandas nacionais. Algumas músicas como “Watch Your Mouth” são já bastante bem recebidas pelo público que não se coibe de chegar à frente, cantar e dançar durante todo o set. Set em versão fast forward, afinal eram cinco bandas numa tarde, mesclado entre as músicas da demo e do EP e ainda com a apresentação de uma nova música.

Com um novo álbum acabado de sair do forno, os Grankapo são, ao dia de hoje, uma das maiores bandas de sempre no panorama hardcore nacional. São mesmo já um dos clássicos e nome incontornável na história da cena hardcore portuguesa. E os concertos da banda demonstram isso mesmo: incriticáveis em palco e uma grande empatia entre o público e a banda. Não será, por isso, de estranhar, que a banda tenha dedicado grande parte do seu set a apresentar algumas músicas novas que figuram no novíssimo “The Truth”. Músicas que demonstram o clássico som da banda, baseado num hardcore mais clássico e tradicional, com bastantes partes rápidas a apelar ao circle pit e mosh parts capazes de agradar aos melhores dançarinos.

Mas a tarde – agora já noite - era, indiscutivelmente dos For the Glory. E, muito por eles, o Revolver voltou a mostrar a saúde em termos de audiência que a cena hardcore da zona de Lisboa tem, aos dias de hoje. Pouco falha num concerto de For the Glory. Sejam músicas antigas, como “Fall in Disgrace”, dedicada aos fãs mais old school da banda – afinal, é a música mais antiga que tocam actualmente, 8 anos depois de terem dado o primeiro concerto -, ou “Drown in Blood” ou “Won’t Crawl on my Knees”, sejam músicas do recente “Some Kids Have No Face”, a sala recebe-las com a mesma felicidade. A felicidade de estarem perante uma das melhores bandas europeias, a felicidade de estarem presente uma das suas bandas preferidas e, orgulhosos, da mesma ser portuguesa. E é deste orgulho que se faz um concerto de hardcore. Orgulho de conhecer a banda, de saber as letras, de querer chegar mais perto do microfone para cantar as letras com que mais nos identificamos. Um orgulho que é, igualmente, recíproco, numa transmissão de energias positivas entre banda e público. Um público que, segundo a banda, é um dos melhores da Europa, quanto mais que não seja pelo facto de, também em uníssono, cantarem “Things We Say” dos lendários Gorilla Biscuits. E isso, meus amigos, é um grande “estudasses, Europa”.

De Cacilhas têm soprado muito bons ventos recentemente. A sala, várias vezes, bastante bem composta e tem sido palco de variados concertos de beneficiência por causas várias. Algo que sempre distinguiu o hardcore de outros estilos musicais, é esta consciência social. Este activismo. Algo que nunca deve ser deixado morrer e, aliás, deve ser incentivado e tornado regra. Há algo mais de música no hardcore e todos devemos ter parte activa no mesmo, não só indo a concertos mas, igualmente, escrevendo, criando zines, etc. O hardcore vai vivendo, e quer-se ainda mais saudável.

03/07/2011

Pressure | Critical Point, Release Show (Lisboa)

O hardcore voltou à Casa de Lafões, a peculiar sala na baixa Lisboeta. Mas, se por obra do calor veraniante, ou apenas reflexo de dois fins de semana seguidos com concertos a meio da tarde, não foi uma Casa de Lafões muito calorosa ou, sequer, numerosa, que acolheu o show de lançamento dos novos registos de Critical Point e Pressure.

Mas, não fora este pequeno pormenor, e o dia tinha tudo para ser uma grande tarde. Porque o hardcore não é só música, havia, a partir do momento em que se entrava na sala, diversos pontos de interesse. Desde logo, flyers de dietas vegetarianas (afinal, Critical Point é, assumidamente, uma banda pró-vegetariana), bancas de merch, zines, distros, etc. Um pequeno apontamento para ressalvar a importância dos mesmos, e a caracterização de um show de hardcore como mais que música. E, nesse aspecto, voltamos a experienciar um bom momento.

Quem terá sentido, de forma particular, a relativa falta de pessoas na sala - apontava a, talvez, um quarto da capacidade da sala lisboeta- e, ainda mais, a latência das que figuravam, foram os stevenseagal. A banda nunca conseguiu criar especial empatia com o público e, nem mesmo as covers de SSD e Day of the Dead, fizeram com que o público aderisse à festa. A banda surgiu como substituta de última hora face à impossibilidade dos Never Fail tocarem, mas não terá conseguido afastar esse fantasma. Tem, contudo, de se destacar que esta é uma das bandas mais originais da cena punk hardcore actual, mesclando a sua melodia a um lírica portuguesa, algo que nenhuma outra banda, na actualidade, o faz.

Os Critical Point surgiam como anfitriões deste dia, a par dos Pressure – afinal, o dia era sustentado pelo lançamento dos novos EP’s das duas bandas -, mas foram a banda que deu seguimento ao concerto dos stevensegal. Como já referimos, esta é uma banda assumidamente Go Veg! Por isso não é de estranhar que, em músicas como “Make a Choice”, esse seja o tema abordado na mesma. A banda liderada pelo mítico Rafael Madeira, mas com membros bem conhecidos na cena hardcore – membros de bandas como Pointing Finger, Broken Distance – vai buscar influências a bandas clássicas do hardcore straight edge nova iorquino como Judge ou Youth of Today. Um set que já presenciou alguma adesão por parte do público mas que, talvez pela rara oportunidade de ver Critical Point ao vivo – afinal, a banda poucas vezes sai do Algarve -, não está ainda familiarizada com a mesma. Mas, verdade se diga, é uma banda única em Portugal.

Os Cold Blooded, à partida, seriam a banda que, a nível sonoro, mais se desviava do restante cartaz. Mas tal, é igualmente sinónimo da ausência de barreiras que se quer num show de hardcore. Tal como o Rafa disse durante o show de Critical Point, seja straight edge, beatdown, ou o que quer que seja, estamos ali por um objectivo comum. Os Cold Blooded não se deram sequer ao trabalho de usar o – horrível – palco da Casa de Lafões (bom, excepto o baterista, claro). A banda apresentou pela primeira vez ao vivo o novo guitarrista e, como se previa, a diferença foi notória. Muito mais coeso e complexo o som da banda, que permitiu garantir uma maior flexibilidade ao nível da guitarra. Isto é, permitiu garantir ritmo à riffagem, algo que até agora não vinha sendo possível. A melhor contratação do defeso, sem dúvida. E foi, também, o show que, até à altura, presenciou um maior envolvimento entre banda e público – e, talvez por isso, não tenha sido inocente a opção por tocar no chão, e não no palco. “Watch Your Mouth” vai se já tornando um dos novos-clássicos do hardcore nacional.

Aos Pressure estava reservado o encabeçamento do cartaz e, como tal, a honra de fechar a tarde de concertos. Já ia longo o tempo que a banda não tocava na zona de Lisboa. Infelizmente não parece ter sido o tempo suficiente para fazer encher ainda mais a sala. Contudo, não foi por isso que, finalmente, não se viu um concerto hardcore – com todas as suas envolventes extra musicais – quase como mandam as regras. Daqueles com pessoas a mexerem-se e a cantar. Os Pressure, como sabemos, surgiram das cinzas dos Pointing Finger e, o mesmo é dizer, que inclui membros também dos Broken Distance. E, para além de tudo isto, é dizer, igualmente, que são membros com um andamento muito acima da média. Como tal, a nível musical, fora perfeitamente irrepreensível. Músicas novas, músicas da demo, e promessas que, dentro de um ano, haverão quatro músicas novas e um novo concerto em Lisboa. Porque, como anteviam quando começaram a banda, os Pressure querem fazer as coisas com calma. E, se a calma continua a trazer registos como o novo EP “Your Rage”, que se mantenha essa calma, que ninguém fica chateado. A finalizar, uma cover de Minor Threat (Filler), que incendiou por completo a Casa de Lafões, numa mostra do que é capaz o público nacional quando, finalmente, acorda.

O hardcore voltou à Casa de Lafões. Aliás, atrever-me-ia a dizer, que o hardcore com conteúdo voltou. Mais do que o normal, nos últimos tem-se assistindo a um cada vez maior conjunto de bandas que, para além da música, tem algo a dizer. Têm voltado os discursos de palco e, isso, é encorajador e motivador. É isso que distancia a cena punk hardcore de outras cenas, mais estritamente musicais. Há bancas de merch, há zines, há distros. Esperamos apenas que continue a haver pessoas!

26/06/2011

Get Slapped 2011

Marcava 44ºC um termómetro – ao Sol, dê-se lhe o desconto – perto de Alvalade, durante a tarde de hoje. A verdade, é que já se sabia desde há uns meses que o Inferno havia caído sobre aquela zona de Lisboa, contudo, hoje fora puramente metereológico. Mas não foi este calor dantesco que afastou uma muito bem composta Associação Joaquim Xavier Pinheiro – que é como quem diz, a sala de Alvalade – de assistir ao que prometia ser um festival de chapadaria gratuíta.

Aos Shape começa a faltar palco para tanta música. E, talvez por isso, o vocalista da banda não se dê, sequer, ao trabalho, de o usar. Como seria de seu direito, afinal. A voz é feita do chão e, aquele que até temia começar por ser um início frio de matiné musical – sintam a ironia das palavras -, acabou por se tornar em mais uma prova do quão grande se está a tornar esta banda. Público a transmitir calor humano desde o início do show – tumba, outra! -, quer nos originais da banda, que, aliás, vão já sendo sabidos de cor, quer nas covers (The Machinist, Have Heart e 1992, X-Acto) tocadas pela banda. Aguarda-se com impaciência o lançamento de algum registo da banda.

Aos The Skrotes coube a díficil tarefa de conseguir dar seguimento ao concerto dos Shape. Com uma, visivelmente, menos cheia sala, os Skrotes ofereceram o que melhor o seu skate-punk- de-elevada-violência-e-rapidez possibilita. Os Skrotes têm uma onda muito característica e, com isso, um público sempre bastante fiel que – wait for it - não os deixa ficar a arder, mesmo com o calor que se fazia sentir. Da mesma maneira que a banda ofereceu aquilo que dela se espera: caos, anarquia músical e uma excelente presença em palco. Ah, e sets curtos, sem merdas. Claro.

Foram precisos oito meses para que os Reality Slap voltassem a tocar em Lisboa. Durante este interregno, a banda tem estado a gravar o novo álbum “Necks and Ropes” do qual apresentaram, em Alvalade, temas que o constituem. Músicas essas que demonstram uns Reality Slap com uma potência e poder que ainda não tinham sido vistos. Sim, ainda mais bruto que as faixas de registos anteriores. Ficou-se ainda a saber que, uma delas, contará com a participação do vocalista de Parkway Drive. E, como não poderia deixar de ser, o concerto de Reality Slap foi o verdadeiro Get Slapped Fest, ao qual não faltou gente a levar demasiado à letra esta intitulação (as melhoras a todos). Se já havia calor, os Reality Slap encarnaram o diabo e foi, definitivamente, o Inferno na Terra.

Os Devil in Me voltaram a tocar em Lisboa para encabeçar a matiné hardcore, bem típica do bairro de Alvalade – como, aliás, fizeram questão de deixar bem claro logo no início do brevíssimo concerto da banda, mas já lá vamos -, afinal, foi ali que começaram bandas como, por exemplo, os For the Glory. Os Devil in Me apresentaram, desde logo, uma surpresa: Mike Ghost no baixo, o que, porventura, deveria significar a introdução de “Claim My World”, do recente álbum da banda, “The End”, no set da mesma. Tal não chegou a acontecer. Mas vamos por partes. Os Devil in Me tinham uma sala à sua espera. Havia, até, quem tenha vindo do Alentejo para os ver – true story. E, desde o início do concerto, com “The End” e “Alive”, que praticamente toda a sala fez questão de o demonstrar. Mas o concerto dos Devil in Me estava condenado ao insucesso. Foram vários os problemas de som que a banda enfrentou, ao longo do seu set, que impossibilitou, em grande parte do tempo, ouvir sequer os instrumentos ou a voz. E, foi com apenas mais “On My Own”, “City of the Broken Dreams”, “Live Fast Die Young” e “Brothers in Arms” que a banda viu o seu concerto ser interrompido, de vez. Não, não por culpa dos já citados – e recuperáveis – problemas de som, mas por via de dois agentes policiais que obrigaram ao términus da matiné. Afinal, nenhum de nós está nisto para arranjar confusão.

Foi com este final abrutpo que, a quase cheia sala de Alvalade, se despediu de uma bastante saudável cena hardcore lisboeta, como que renascida das cinzas. Não foi o calor e o bom tempo que afastaram o público para a praia, como se poderia fazer prever. Quem sabe, não fora esse mesmo calor e bom tempo que levaram a alguns membros, bastante jovens, do público a deslocarem-se a Alvalade. Que o bom tempo continue, então.

05/06/2011

Hardcore Benefit Pelos Animais - Cacilhas

Foi com calor, bastante calor, e um mar de gente – ou talvez devamos dizer um rio de gente, dada a proximidade com o Tejo –, que o Revolver Bar recebeu mais uma saudosa noite de hardcore. Em trejeitos de beneficiência, pelos animais, juntaram-se quatro dos melhores representantes nacionais do género.

Percebe-se que a noite é especial – mesmo que não tenhamos em conta o cariz final do evento – quando, desde o primeiro minuto, da primeira banda, há uma envolvência e uma devoção do público perante a mesma. Aos Cold Blooded caberia a díficil tarefa de abrir uma noite que teria pela frente, ainda, Steal Your Crown, Devil in Me e For the Glory. Mas, apesar da relativa juventude cronológica da banda Lisbo-Almadense, o andamento que diversas tour já lhes conferiram, permitiram que a banda tivesse o público na mão, desde logo. Duros que nem betão, os Cold Blooded basearam o seu alinhamento na demo já lançada, bem como em novas músicas, não descurando ainda a participação de elementos próximos da banda. Seguramente, um dos mais sólidos abrir de noite que poderemos ter memória.

Os Steal Your Crown subiriam ao palco para dar continuidade à noite que, acima de tudo, era para os animais. Não o público, animais mesmo. Dos que ladram e miam e assim. E, como não poderia deixar de ser, ao jogar em casa, o concerto da banda da Margem Sul ameaçou a saúde de todos os presentes. No bom sentido, está claro. Duríssimo, será pouco objectivo para descrever o que ia decorrendo frente ao palco. Um entrega e uma adesão quase total de um público que, por esta altura, já enchia quase na totalidade a sala almadense.

Não se tivesse visto o que se passara anteriormente e, à partida, seria então a vez do primeiro nome grande da noite entrar em cena. Seriam os Devil in Me. Mas, como já se percebera, por esta altura nomes grandes já pouco sentido fazem, quando todas as bandas presentes têm um nível incontestável. Os Devil in Me trouxeram a Cacilhas um pouco de todo o seu repertório, trazendo desde o novo “The End” com “The End” e “Push, Twist & Turn”, passando pelo anterior “Brothers in Arms” através das músicas “Brothers in Arms” – que fechou o alinhamento – “Only God”, “Live Fast Die Young” e “From Dusk Till Dawn” e revisitando, ainda dos tempos de Lockdown, e presente em “Born to Lose”, “Alive”. Não foi dos concertos mais longos da banda e, por vezes atraiçoado pelo feedback exagerado que o Revolver pontualmente presenteia – algo que será ainda mais problemático em For the Glory, mas a seu tempo. Muita jovialidade esta banda arrasta, pelo que é sempre bom que a mesma tenha contacto com este tipo de eventos, com este tipo de finalidade.

Aos For the Glory coube então a honra de encerrar a noite. A banda trouxe a Cacilhas um alinhamento baseado especialmente no novo “Some Kids Have No Face”. “Some Kids Have No Face”, “Armor of Steel”, “All the Same”, “Where’s Justice” – com dedicatória especial aquilo que não tem lugar numa cena como a punk hardcore -, e “Behind My Back”, foram as músicas do novo disco que o repleto e devoto Revolver Bar pode cantar e dançar, no espaço que conseguisse arranjar para tal. A “Survival of the Fittest” a banda foi ainda buscar a música que o entitula “Survival of the Fittest”, “All Alone” e “Fail Me”, indo ainda buscar a velhinha “Won’t Crawl On My Knees” ao bau de “Drown in Blood”. Visitando ainda os compêndios mais cruciais do hardcore, os For the Glory surpreenderam tocando “Things We Say” dos Gorilla Biscuits. Afinal, numa noite como esta, uma cover só poderia mesmo vir de uma banda com um animal no nome. Pena que, a espaços, o já referido feedback, eco, o que se lhe queira chamar, do Revolver Bar tenha condicionado um pouco a percepção do som da banda, confundido demasiado os instrumentos.

Uma noite em que, público, bandas, organização mas, acima de tudo, associações de animais ganharam e só têm de ficar felizes pela repercussão que teve. Muito público a mostrar que, como se foi dizendo ao longo da noite, não são necessárias bandas estrangeiras super cruciais para encher salas em Portugal. São, pelo menos, necessárias boas ideias, boas organizações. Um noite que fez todo o sentido pois, afinal, nunca estivémos tão entregues à bicharada como agora. Há, pelo menos, que os estimar. Aos animais.

04/03/2011

Push, Twist & Turn Tour, Berlin Bar, Bairro Alto

Boas bandas, quinta-feira, Bairro Alto e um horário convidativo só podiam fazer correr bem uma noite que tinha tudo para tal. Foi o bar “Berlin” a sala Lisboeta que recebeu a passagem da “Push, Twist & Turn Tour”, a tour de promoção do novo álbum dos Devil In Me, “The End”.

Se há salas ideais para um concerto de hardcore, o bar “Berlin” tem de ser considerado uma delas. Tamanho perfeito, bom palco e óptima qualidade de som. E, de facto, foi um praticamente cheio “Berlin” que recebeu os Devil In Me, os No Good Reason e os Shape.

Numa pontualidade quase britânica - ou deveremos dizer germânica? - os Shape iniciaram a sua actuação poucos minutos passavam as dez da noite. Reflexo das somente três bandas no cartaz (que, diga-se, situa-se no ponto ideal de tolerância máxima a uma noite de hardcore) ou da qualidade das mesmas, o “Berlin” esteve bem composto desde a primeira banda. E, a isso, não é alheia a própria qualidade do concerto dos Shape que, assiste-me e apraz-me afirmar, terá sido o melhor da banda até hoje – ou ontem. Um set constituido pelas habituais “Vampires”, “Doppelganger” – esta com a colaboração da vocalista dos extintos Reaching Hand – ou “Life’s Hard”. Desta vez não havendo Verse, coube a “1992” a eterna música sobre amizade dos X-Acto a fazer o lugar de cover no set dos Shape. E, mediante o ambiente que se vivia no “Berlin” na noite de 3 de Março, a escolha não poderia ter sido mais acertada. Um momento cantado em uníssono por toda a sala – mesmo quem estava lá atrás, estava a cantar – ao qual não faltaram explosões carnavalescas, colorindo assim, ainda mais, a festa que se fazia. Adesão do público desde a primeira música, público que já vai mostrando conhecer algumas das palavras que compõem as líricas da banda. As previsões não tinham como falhar: uma sala pequena e tempo de habituação à banda e, a mesma está, paulatinamente, a crescer.

Os No Good Reason, de Almada, vestiram o seu set de fantasia carnavalesca e de festa e trouxeram uma miscelânea do aclamado EP “Far Away” e covers que não tinham como deixar alguém indiferente. Desde a intro com Have Heart – e a ex-vocalista dos Reaching Hand na voz novamente – passando por um medley com Black Flag e Ramones e acabando em “When 20 Summers Pass” de Shelter, os No Good Reason souberam como vestir o fato de festa. Aliás, qualquer concerto de No Good Reason é, pela música da própria banda, uma espécie de festa. Não necessariamente por a banda ter uma qualquer atitude galhofeira, mas pelo feeling e pela sensação feel good que as músicas transmitem. No Good Reason é boa onda e, depois de um concerto da banda, é impossível não ter um sorriso na cara. É, igualmente, sintomático desta ideia, o facto de nem sequer haver o tradicional fosso entre público e banda. Todos estavam ali para se divertir e trataram de se colocar bem perto da banda para o garantir.

Mas a noite era dos Devil in Me e, em teoria, grande parte da afluência ao Bairro Alto na noite de ontem passava por eles e pelo seu concerto. E os concertos dos Devil in Me são muito, daquilo que se quer de um concerto, seja de hardcore, seja de qualquer outro estilo musical. Uma presença inesgotável em palco, fruto de um andamento duas mudanças acima da grande maioria das bandas – e não falo somente das portuguesas – uma qualidade musical pouco questionável, bons discursos entre músicas – fazendo valer a máxima de que o hardcore é mais que música – e uma simbiose quase perfeita entre banda e público. Um set que soube demonstrar os pontos fortes do novo álbum, abrindo com “The End” (que intitula o novo álbum), passando ainda por “On My Own”, “Push, Twist & Turn” (que intitula a tour de promoção do novo disco) e ainda “City of the Broken Dreams”. Igualmente, um set que soube ir buscar os pontos fortes do restante repertório da banda, “Alive” (ainda, até, dos tempos de Lockdown) e “FTW” do primeiro álbum da banda, “Born to Lose” e, “Back Against The Wall”, “From Dusk ‘till Dawn”, “Live Fast Die Young”, “Only God” e “Brothers in Arms” - a terminar - do álbum “Brothers in Arms”. Mas o espectro de X-Acto pairava pela sala lisboeta – talvez pela presença de um dos ex-guitarristas, Paulo Segadães – e, após algumas insistências, foi a vez de, também os Devil In Me, fazerem a sua versão de “Anchor” que, aliás, já se podia ouvir no EP “Live Fast Die Young”. Escusado será definir novamente o ambiente vivido nesse momento. Deve ficar o registo da grandiosidade que as músicas novas ganham ao vivo. Se, em álbum, já demonstravam ser das peças mais interessantes escritas pela banda, ao vivo, qualquer dúvida que existisse é dissipada. E nem o facto de serem músicas novas retirou feedback por parte do público.

A noite da passada quinta feira demonstrou que não são precisas bandas estrangeiras para encher uma sala, neste caso, em Lisboa. Demonstrou que não são necessários shows grandes para uma afluência em massa a um concerto de hardcore. Demonstrou, acima de tudo, a qualidade das bandas nacionais e do público nacional, que sabe reconhecer que, quando as bandas são boas, sejam portuguesas, sejam estrangeiras, estão lá para apoiar, cantar e dançar.

28/02/2011

NTB + FTG + CB + MS + BF @ Montijo

O Hardcore está vivo! Quem não concordar com esta afirmação é porque não sabe o que se passou este fim-de-semana em terras lusas. No Turning Back e For The Glory vieram provar aos mais cépticos que o movimento é como o Benfica... Um monstro a precisar de ser acordado!

Comecemos pelo dia de Domingo, pois infelizmente não pude estar presente no concerto do Porto nem no do Algarve, mas tive o prazer de ir passar uma bela tarde de Sol ao Montijo. Quando lá cheguei, deparei-me com um Time Out diferente. Um palco, montado na noite anterior! Por aqui começa o meu aplauso de pé ao espírito 100% DIY que o Fábio e o Flip têm e sempre tiveram. A primeira troca de palavras com eles ao chegar, senti um pouco de receio sobre a enchente ou ficarem, como se diz no português corrente, "apeados". Felizmente, correu tudo bem e a casa encheu, tendo-se vendido ainda uns quantos bilhetes à porta!

A verdade é que muitas das caras que lá estavam não são assíduos nos concertos, mas há sempre uma primeira vez, e se esta foi a primeira vez de muitos deles, ou uma das, acredito que voltem! Antes do concerto de For The Glory , o Flip disse umas quantas palavras que acho que quem está minimamente dentro do que se passa na cena nacional percebeu e foram, na minha opinião, palavras sábias. Thumbs up my friend.
Depois, subiu ao palco o Luis , da conhecida banda DAY OF THE DEAD (RIP!). Como já nos tinha habituado, também ele disse as palavras certas!
O Hardcore é um modo de vida que tem que ser vivido não apenas dentro das 4 paredes da venue, mas 24/7. Mas não vou divagar mais, senão ainda me chamam de prepotente.

Voltando ao concerto...

@ Backflip - A última vez que tinha visto Backflip foi em Frielas, à já algum tempo. Honestamente, não assisti a todo o concerto mas senti uma grande evolução da banda e um maior àvontade em palco. É bom ver que o espirito de Loures se mantém, com todos os amigos lá à frente a apoiar. Loures é isso! Keep it up!

@ Mala Sangre - Apesar de já conhecer o Perez e o Marco, só Sábado à noite é que soube quem era a banda. Não tinha ouvido nada, mas gostei do que ouvi, se bem que as vozes estavam demasiado baixas para o meu gosto. A cover de Terror foi o ponto alto do concerto destes espanhóis, visto não estarem a jogar em casa e ainda não serem muito conhecidos na cena nacional. Vão entrar em estúdio em breve, por isso ficamos à espera de novidades e uma nova visita.

@ Cold Blooded - Eu não sou a pessoa ideal para falar de Cold Blooded , pois é uma das bandas que mais gosto na cena Hardcore nacional. Bom concerto, com o povo já a mexer-se mais. Novamente problemas na voz, tendo havido 1 música que o Kizomba cantou sem se ouvir. Acho que só se apercebeu no fim.

Discurso de Flip e Luis . Thumbs up!

@ For The Glory - Hardcore puro e duro. O pessoal acanhou-se um pouco ao principio mas a partir do momento em que o Congas mencionou (presumo que foi logo depois da Fall In Disgrace, salvo erro) "Eles tiveram durante a madrugada inteira a construir este palco para alguma coisa... Toca a fazer stage dives". E pronto, começou a festa. Hardcore tuga style! Stage dives, circle pit, 2 step ... E pronto, agigantava-se o pequeno Hardcore numa venue em que a humidade escorria pelas paredes de tão cheia que a sala estava. A música "The Pack" que conta com a presença de vários vocalistas foi um dos momentos altos do concerto, sem esquecer claro da Survival of The Fittest ou a Won't Crawl on My Knees ! Com isto tudo, ninguém se apercebeu que o Benfica estava a perder (coisa que se resolveu em 5 minutos, diga-se!)

@ No Turning Back - O Martijin disse bem: "É díficil tocar depois de For The Glory". É verdade. Depois de um concerto como o que For The Glory deu (igual ao que nos têm habituado, sempre com a energia ao máximo) estava difícil a tarefa para os holandeses. Quando começaram ainda havia pessoal lá fora, que em menos de 2minutos voltou para dentro ... Mas a tarefa de tocar a seguir a FTG foi bem acatada pelos holandeses que prepararam um set para não desiludir: Web of Lies, Take Your Guilt, Stronger, I Rise, Do You Care, algumas músicas do novo albúm "Take Control" ... não houve como não agradar a todos os que se deslocaram ao outro lado do Rio Tejo (só se tocassem o Revenge is a Right todo :x )

Resta-me agradecer ao Fábio e ao Flip pelo acolhimento e pela dedicação que têm a este movimento! Ao Congas por facilitar a vida ao Young Channel para entrevistar NO TURNING BACK e FOR THE GLORY - Entrevistas essas que irão estar disponiveis brevemente em www.YOUNGCHANNEL.com.

A quem esteve presente.

Abraço também a NTB, Cold Blooded, Backflip e Mala Sangre!

HARDCORE LIVES!


Cheguei agora a casa, ainda estive a bulir, por isso se a review tiver aí uns erros, não me crucifiquem. *


19/02/2011

Death Before Dishonor + The Mongoloids + Shape - 17\02\2011, Cacilhas

Na noite de regresso dos americanos Death Before Dishonor houve pouco de tudo um pouco. Confuso? É ler para perceber.

Era uma noite, à partida, pouco conveniente para o hardcore. Os Sum41 tocavam ali praticamente ao lado – afinal, bastava atravessar o rio e dar um passeio à beira mar – o Benfica tinha acabado de jogar, o Sporting e o Porto jogavam à mesma hora, Paus iria tocar ali ao lado – para quem, novamente, quisesse fazer um passeio à beira mar – e nem duas semanas antes os Terror por ali, no mesmo espaço, tinham passado. Tudo factores que, conjugados, proporcionaram aos Death Before Dishonor um ambiente bastante diferente dos que haviam experimentado nas três passagens anteriores por Portugal. Mas já lá vamos. Curiosamente, a metereologia que vinha assolando a zona nos últimos dias, nem fora um empecilho. Talvez medo de um rio agitado.

Após algumas alterações ao cartaz inicial e desistências de última hora, coube aos Shape fazer a abertura da noite que consagrava a estreia dos Mongoloids em Portugal, bem como o regresso dos Death Before Dishonor ao nosso país.

Os Shape, para quem não sabe, é uma banda relativamente nova a tocar um hardcore na onda de Verse. Cada vez mais coesos em palco, com uma presença que acaba por aliar uma inquestionável qualidade musical a um agradável espectáculo visual, para quem gostar de ficar somente a assistir. E, como banda relativamente nova que é, pouca adesão humana sugere. Um concerto em tom de soundcheck ou ensaio. Irrepreensívelmente bem tocado, mas ao qual assistia uma desoladora plateia que nem com a execução de uma cover de Verse (Start a Fire) se excitou. Culpa do horário e do alinhamento, pensariam os mais optimistas. Não tanto.

Aos Mongoloids estavam, desde logo, subjacentes duas questões: a capacidade dos mesmos em dar sequer um concerto e, depois, a maneira como o fariam. A justificação é simples: esta é a banda que meses antes tinha... debandado. Rumores à parte, restou somente o vocalista. E, esta é, igualmente, a banda que, antes desta mesma tour europeia, lançou um comunicado cancelando uma série de concertos no seu país, devido a problemas internos que antevieram um fim anunciado desde os tempos da debandada. Mas, como banda profissional que mostraram ser, problemas houvessem, ninguém os adivinharia. Com um concerto iniciado com “True Colors”, os Mongoloids passaram em revista os seus melhores registos. “Alive and Well”, “Time Trials”, “Fading Away”, “Mongo Stomp” ou, ao fim, “Troubled Waters”, passando ainda pelo recente EP com a música que o intitula “New Begginings”, fizeram uma set list coesa e propícia a um bom espectáculo apenas arruinado pela ausência de público. Convenhamos, contudo, que os Mongoloids não são a banda mais conhecida em Portugal e, muito menos, a mais popular. Uma presença em palco intocável, cabendo especialmente ao vocalista e ao baixista da banda o epíteto de animais de palco. Bom... ou de chão, tendo em conta que foi lá que o vocalista actuou.

À quarta presença em Portugal os Death Before Dishonor terão presenciado a recepção mais fria que poderiam ter antecipado. Não por culpa de quem lá estava, mas mais por culpa de quem lá não estava. Quem lá não estava também, era um dos guitarristas da banda por estar a descansar do seu casamento com a vocalista dos Walls Of Jericho. Reza a lenda, que esse amor terá, inclusive, começado na noite em que os Death Before Dishonor tocaram com os Walls of Jericho na Caixa Económica Operária. Outra diferença para essa noite foi, como o próprio vocalista dos Death Before Dishonor confessou, a sua sobriedade. Sobriedade essa que não terá sido bem aceite pelos mecenas da plateia que, ao longo do set dos americanos, o abasteciam a sumo de cevada. Mas nem esse mesmo abastecimento terá feito a máquina Death Before Dishonor funcionar em pleno. Cansaço, ou não, a banda mostrou-se algo apática em palco, sem grande presença no mesmo. Verdade seja dia, a música da banda passa muito pela interação com o público. A quantidade de coros e back-vocals nas músicas, pede uma plateia participativa. E quando essa plateia é escassa, mesmo que participativa, o som da banda ressente-se. O set, aberto com “Born From Misery” de um dos anteriores álbuns da banda, foi relativamente focalizado no recente “Better Ways to Die” como seria de esperar. “Peace and Quiet”, “Remember” ou “Boys in Blue” marcaram presença no mesmo, tal como "Break Through it All", “Count Me In”, “Curl Up and Die”, “666 Friends, Family, Forever”, por exemplo, que levou a um muito pouco convincente anuncio de final de show. Se pudermos chamar-lhe assim, para o fim do encore estava guardada a invevitável “Boston Belongs To Me” – a conhecida cover dos Cock Sparrer – que promoveu a melhor adesão do público com, até, tentativas de stage dive.

Duas semanas depois dos gigantes Terror terem pisado o palco de Cacilhas – num ambiente bem diferente do da noite de 17 de Fevereiro – foi a vez de outra das grandes bandas do hardcore norte americano o fazer. O Revolver não terá presenciado muito mais de uma centena de pessoas que não terão conseguido gravar na memória das bandas americanas a sua passagem por Portugal este ano.

05/02/2011

Terror / First Blood / Lion Heart / Backtrack



Ora bem, enquanto tenho os acontecimentos ainda relativamente frescos na memória, deixo-vos com um gostinho do que se passou no Revólver em Cacilhas a noite passada. Quem foi, sabe bem do que estou a falar, quem não foi, não deve estar mesmo a ver o que perdeu.
Assim que eu e os meus saímos do Cacilheiro, já se reuniam algumas pessoas à porta, algumas jantavam na zona e aos poucos, chegava sempre cada vez mais gente.
Um bocado depois da hora marcada, começou toda a gente a entrar entupindo a entrada e assim que consegui atravessar a multidão, deparei-me com as bancas de merch no andar de cima - para haver mais espaço de modo a acomodar toda a gente no andar debaixo - e gente dentro do Revólver como nunca tinha visto. Nem no Revólver, nem no Man's Ruin, nem no Culto. As pessoas agregavam-se em volta do palco tomadas pela expectativa do que os concertos iriam trazer, algumas pessoas acomodavam-se mais atrás, outras enchiam o andar de cima, a escadaria e os cantos dos palcos. Diria que estava um ambiente perfeito para receber as bandas que ontem tocaram (e bem!).
A primeira banda a dar início às hostilidades foram os Bactrack, provenientes de Nova Iorque, transpirando energia e juventude. Estes rapazes deram um bom concerto e eu própria não conhecendo bem o colectivo de Long Island, dei por mim a pensar "se estou a gostar tanto disto agora, imagino se os conhecesse bem". Infelizmente, não houve muita gente a aderir, talvez por não conhecerem bem, talvez porque os rapazes já estariam um tanto quanto gastos da tour. Ainda assim, foi um bom concerto.
De seguida, vieram os Lion Heart da Califórnia, mas não presenciei a sua performance por completo, pois estive por instantes lá fora na conversa com uns amigos, dado que esta não era uma banda que eu fazia inteiramente questão de ver. Das poucas músicas a que assisti, pude assistir ao poder da banda. Pareceu-me ser uma boa prestação no geral que já conseguia trazer um pouco mais de caos, até o chão já estava na fase de ringue de patinagem artística proporcionando um rol de quedas, mas nada comparado com o que estava para vir.
No fim de Lion Heart aproveitei a pausa para ir comer algo muito rapidamente e por isso mesmo não consegui ver First Blood desde o início. Mas, do pouco que vi,apreciei bastante. O poder e a raiva que a banda emanava, deixava os maiores fãs da mesma completamente loucos, e o público cada vez mais expectante começava a fazer parte da festa em vez de serem meros espectadores. Por momentos, pensei que o mundo ia desabar quando foi proferido o verso "Next Time I See you, You're Fucking Dead". Foi sem dúvida uma prestação pesada.
"And last but not least" foi a vez dos Terror. Sem grandes cerimónias deram início a um espectáculo fenomenal. Trouxeram de Los Angeles no bolso várias canções do novo álbum "Keepers of the Faith", como "Stick Tight", "Your Enemies Are Mine" e "Returned to Strenght". Também passaram por músicas mais antigas como "One With the Underdogs", "Always the Hardway", e até mesmo músicas da sua demo. O frontman Scott Vogel estava imparável, sempre a comunicar com o público, pedia stagedives atrás de stagedives, circle pits atrás de circle pits e o público acedia. Pessoas voaram, caíram, saltaram, pairaram, sangraram, deram cambalhotas, apoderaram-se do microfone e inclusive balançaram nos candeeiros. Foi o fim do mundo por completo. Vimos vários amigos de Terror cantar, num"pass da mic" nunca visto, onde até o baterista Nick Jett veio dar-nos a graça de ouvir a sua voz. Vieram, viram e venceram.
Esta noite foi certamente memorável, em que os Terror afirmam que são momentos assim que os fazem sempre voltar, quando estão fartos do que fazem. E apesar da sua idade, continuam sempre a fazê-lo bem e arrisco até dizer, continuam a fazê-lo cada vez melhor.
A minha previsão para este concerto foi "heads will roll" e cabeças certamente rolaram.

11/01/2011

No Good Reason - Far Away EP

Se estás a ler isto e tens o disco em casa, aproveita. Pega nele, coloca-o no teu gira-discos e começa pelo lado b. 33rpm, não há que enganar. “Far Away”, no lado b, começa com uma das melhores músicas dos últimos tempos do underground português. Chama-se “Tuesdays = Nowhere” e tem como participação especial Ricardo Martins dos extintos Day of the Dead. Verdade se diga, esta música vai fazer-te correr o risco de deixar a bolacha em mau estado. Aconselhava que fizesses um rip do teu disco para o computador. Mas convenhamos... “Far Away” não é só “Tuesdays = Nowhere”. “Far Away” é um pequeno pedaço do que de melhor se faz em Portugal no espectro do punk hardcore.

Os No Good Reason já não precisam de introduções. Já andam há tempo demasiado a fazer boa música para ainda alguém os vir definir como uma espécie de cruzamento entre Gorilla Biscuits e Lifetime. Não o farei de novo.

O melhor de No Good Reason, é que não precisamos de uma música como “Tuesdays = Nowhere”, uma música incidente sobre amizade e companheirismo, para nos remeter a esses sentimentos. No Good Reason é sinal de roadtrip, de boa onda, de bons sentimentos, daquilo que deve ser feito o hardcore. “Far Away” vai ainda mais longe. Ou mais para trás... Nunca os anos 90 estiveram tão bem caracterizados num disco saído já na década seguinte. “College” e “Far Away” lembram Millencolin. Claro que, em “Far Away”, seriam uma espécie de Millencolin em ácidos, que só mesmo alguém bem dentro de várias vertentes do underground “saca” um instrumental ao nível daquele após uma música de tendência Happy Hardcore. “College” chega mesmo a ser um pouco o retrato da juventude. O drama de trabalhar para chegar mais além, de trabalhar para ser o melhor e, no fim, esperar que esse trabalho dê frutos. Afinal, a vida não é certa. É dura. E não é por isso que todas as músicas, dentro deste tópico, têm de ser musculadas.

“Far Away” marca o regresso dos No Good Reason à edição de música, algo que já se vinha aguardando há algum tempo. Mais do que uma revolução sonora, é o aprimorar de um som único em Portugal. Verdade se diga, ninguém faz música como os No Good Reason em Portugal. Para o bem e para o mal. E, é por isto, que No Good Reason é tão especial.

www.myspace.com/nogoodreasonhc