Foi um praticamente cheio Revolver Bar, em Cacilhas, que recebeu de volta os For the Glory, na sua última data da recente tour europeia. A tarde era também marcada pelo apoio a instituições de beneficiência a pessoas carenciadas, através da angariação de produtos alimentícios para as mesmas. Mais um exemplo por aquilo que se deve pautar o hardcore: mais que um estilo de música, ter uma vertente e consciência social bem activa. A apadrinhar o regresso dos For the Glory, estavam ainda os Hard to Deal, os For Ophelia’s Death, os Cold Blooded e os Grankapo.
O concerto dos Hard to Deal vem no seguimento de um Setembro bastante movimentado, com vários concertos, um EP lançado e, ainda, uma distinção honrosa – valha o que isso valha – como banda da semana para o 4THEKIDS. E, foi esta experiência adquirida durante este mês, que mostrou uns Hard to Deal cada vez mais consistentes que em datas anteriores. Não só a nível sonoro, mas igualmente a nível de presença de palco. O set dos Hard to Deal foi, como se poderá calcular, incidente no seu recente trabalho “Never Ending Story” e foi ainda adornado com duas covers, de Life Long Tragedy e One Life Crew.
Para os For Ophelia’s Death não se afigurava tarefa fácil. Não só iriam tocar num alinhamento de bandas que fugia um pouco ao seu som, estando, por isso, algo desenquadrados do restante cartaz, como ainda se viam impossibilitados de tocar com baixista, por razões pessoais do mesmo. Um esforço que será de louvar, mas que não estamos certos de ter sido frutífero para a banda. A apresentar o seu recente EP, o For Ophelia’s Death não terão conseguido converter ou, sequer, convencer alguns dos presentes da sala. A falta do baixista foi claramente um handicap ao longo do concerto ficando, por isso, a necessidade de ver a banda em condições mais favoráveis.
Numa tarde de ausência de membros de bandas, também os Cold Blooded não puderam contar com o seu recente novo membro, o guitarrista João Fonseca tendo, por isso, voltado à sua formação mais clássica de quatro elementos e, somente, uma guitarra. Mas, neste caso, o som da banda não se ressentiu sobremaneira, até porque fora nessas condições que a banda quase sempre actuara. E os Cold Blooded estão, cada vez mais, e concerto a concerto, a tornar-se numa das grandes bandas nacionais. Algumas músicas como “Watch Your Mouth” são já bastante bem recebidas pelo público que não se coibe de chegar à frente, cantar e dançar durante todo o set. Set em versão fast forward, afinal eram cinco bandas numa tarde, mesclado entre as músicas da demo e do EP e ainda com a apresentação de uma nova música.
Com um novo álbum acabado de sair do forno, os Grankapo são, ao dia de hoje, uma das maiores bandas de sempre no panorama hardcore nacional. São mesmo já um dos clássicos e nome incontornável na história da cena hardcore portuguesa. E os concertos da banda demonstram isso mesmo: incriticáveis em palco e uma grande empatia entre o público e a banda. Não será, por isso, de estranhar, que a banda tenha dedicado grande parte do seu set a apresentar algumas músicas novas que figuram no novíssimo “The Truth”. Músicas que demonstram o clássico som da banda, baseado num hardcore mais clássico e tradicional, com bastantes partes rápidas a apelar ao circle pit e mosh parts capazes de agradar aos melhores dançarinos.
Mas a tarde – agora já noite - era, indiscutivelmente dos For the Glory. E, muito por eles, o Revolver voltou a mostrar a saúde em termos de audiência que a cena hardcore da zona de Lisboa tem, aos dias de hoje. Pouco falha num concerto de For the Glory. Sejam músicas antigas, como “Fall in Disgrace”, dedicada aos fãs mais old school da banda – afinal, é a música mais antiga que tocam actualmente, 8 anos depois de terem dado o primeiro concerto -, ou “Drown in Blood” ou “Won’t Crawl on my Knees”, sejam músicas do recente “Some Kids Have No Face”, a sala recebe-las com a mesma felicidade. A felicidade de estarem perante uma das melhores bandas europeias, a felicidade de estarem presente uma das suas bandas preferidas e, orgulhosos, da mesma ser portuguesa. E é deste orgulho que se faz um concerto de hardcore. Orgulho de conhecer a banda, de saber as letras, de querer chegar mais perto do microfone para cantar as letras com que mais nos identificamos. Um orgulho que é, igualmente, recíproco, numa transmissão de energias positivas entre banda e público. Um público que, segundo a banda, é um dos melhores da Europa, quanto mais que não seja pelo facto de, também em uníssono, cantarem “Things We Say” dos lendários Gorilla Biscuits. E isso, meus amigos, é um grande “estudasses, Europa”.
De Cacilhas têm soprado muito bons ventos recentemente. A sala, várias vezes, bastante bem composta e tem sido palco de variados concertos de beneficiência por causas várias. Algo que sempre distinguiu o hardcore de outros estilos musicais, é esta consciência social. Este activismo. Algo que nunca deve ser deixado morrer e, aliás, deve ser incentivado e tornado regra. Há algo mais de música no hardcore e todos devemos ter parte activa no mesmo, não só indo a concertos mas, igualmente, escrevendo, criando zines, etc. O hardcore vai vivendo, e quer-se ainda mais saudável.