12/02/2015

Blacklisted - When People Grow, People Go

Trying to escape the universe as it floods the highway, black ice, frozen light, I see heaven behind me. above me its hovering, I can feel it crumbling. don’t try to find me, don’t be kind to me. walked barefoot on the sun to drink tea and live quietly. our lives are broken, exploding and floating. time, will not be kind. no one survives.

Ao quarto disco, seis anos depois de “No One Deserves To Be Here More Than Me”, os Blacklisted voltaram à base. Esqueçam o hardcore trabalhado dos dois anteriores discos, esqueçam o quase grunge-core, as guitarras tocadas com garrafas de água, o experimentalismo. Para “When People Grow, People Grow”, os Blacklisted voltaram a um registo mais frontal, directo, objectivo, ao nível do que fizeram em início de “carreira”. When People Grow, People Grow” é uma bigorna de frontalidade e honestidade, tocada sem artifícios. Dificilmente podia ser mais impactante.

Os Blacklisted estão de volta e, com isso, Hirsch, volta a debater-se consigo mesmo. Esperar um disco de Blacklisted é entrar na mente perturbada de um Homem, no seu combate pela auto-aceitação. No exteriorizar das assombrações da mente. Frontal, emotivo, visceral. Introspectivo. Uma descarga de sinceridade. Liricamente, “When People Grow, People Go” volta a tocar todo o nervo possível. Volta a estar no ponto. Músicas como “Turn in the Pike”, “Deeper Kind”, “Burnt Palms” ou a que dá nome ao disco estarão entre as melhores, mais relevantes, que a banda já compôs. 11 músicas, pouco mais de vinte minutos. Um disco cujo fim surge demasiado rápido mas que fica longe de se esgotar com ele.

When People Grow, People Go” é simples. Não vem no seguimento do que a banda vinha fazendo. Ao seu estilo. Afinal, os Blacklisted nunca foram uma banda linear, como, aliás, não são algumas das músicas do novo álbum. Não atendem a uma estrutura, são quase… assimétricas. “When People Grow, People Go” é curto e directo. Vulnerável. Niilista, fatalista. Explosivo. Demolidor. Negro como poucos sabem fazer. É pessoal. É o melhor exemplo daquilo que é uma banda que faz música para se exprimir e não para apenas passear.







15/01/2015

Selfish - Selfish


Selfish - Selfish (7/10)


K7, com a capa adorável do cão do Flávio, limitada a 100 cópias, onde no interior encontramos um pequeno pedaço de papel colorido dobrado com as letras. Gotta love it (não a falta de artwork, mas sim o clássico das k7's)!
"1,2,3,4" e vamos lá! Os Selfish neste trabalho demonstram-nos duas caras num só coração. Uma com um cunho, que me parece mais racional e outra mais sentimental. Sentimos isso se compararmos a 'If You Must, Go Selfish' (melhor malha do EP - dispensava a parte das palminhas) com a 'Such Blindness'. A primeira apresenta-nos um Punk Rock rápido, cru e sem qualquer tipo de pudismo, com a voz rasgada e sempre a abrir. Na outra (Such Blindness), e 3ª da cassete, encontramos uma balada ao estilo dos britânicos "Basement", mostrando-nos esse lado mais emocional e melódico. Depende do que procuram, mas se estiverem num dia mais sombrio, parece-me que este 1:21 e letra simples serão uma boa companhia...
Quanto à "Raise your Fist not Your Nose", 2ª faixa do trabalho dos Selfish, não sei como a classificar. Em cassete não me diz nada, mas ao vivo, com a malta a conhecer as letras, aposto que resultará, mas 1 minuto sem voz é tempo demais. Podiam ter encaixado ali qualquer coisa...
'How Can You Sleep At Night' que tem o mesmo registo da primeira malha do EP, mas esta só peca por um break final que merecia umas oitavas ou então a não existência. Acabarem ali por volta do 1:30 tinha-me deixado satisfeito. De resto, na mouche ou lá como se escreve!
No geral, e indo um pouco de encontro ao que disse na review do concerto com Blowfuse, esta banda veio ocupar um espaço há já algum tempo vazio em Portugal. Ao vivo tudo isto resulta ainda melhor!

13/01/2015

A Life to Take + Neighborz + Above The Hate @ Popular Alvalade



Mais uma matiné organizada pelo Noia e os amigos e o meu primeiro show do ano. Saídos de casa pelas 16h, chegámos 15 minutos depois e ficámos em amena cavaqueira com o pessoal que cá estava fora. Parecia que a casa ia estar bem composta naquela tarde no Popular, que já se tornou numa pequena referência nos concertos de punk-hardcore no centro de Lisboa.

Boa organização, boa atitude e boa onda parece ser o lema de quem gere o espaço.

A Life To Take: Coube-lhes a tarefa de abrir o concerto e fizeram-no com autoridade. Sou suspeito, gosto imenso do som da banda e o concerto teve gente a curtir, o que dá sempre um melhor ambiente. Hardcore com pitadas de stoner, misturando bons riffs com boas partes rápidas e 2-step. Diversão garantida e um bom começo de matiné. Don't forget: soundtrack do The Good, The Bad and The Ugly no início ia ser demolidor.

Neighborz: Um bom show, como já vem sendo hábito. O pessoal que curte Neighborz estava lá quase todo o que ajudou, e muito, o concerto. Feeling que se nota a quilómetros e um som a lembrar Backfire!, entre outros. A escola está lá toda e, por isso, tudo certo! No final, tive de adquirir o EP que lá tinham à venda, "Embassy". Apoiem!

Above The Hate: A fechar, a banda que me dizia menos em termos de sonoridade mas que me surpreendeu ao vivo, dado que nunca tinha visto. Pesado, bem tocado e com bom som, a banda pode ser um caso sério até fora de Portugal.
O pessoal que lá estava para vê-los correspondeu, o calor na sala aumentou e o concerto foi bom! Um bom fecho de matiné, sem dúvida.

Resta dizer que o Popular vai continuar a ter bons concertos em breve e, por isso, a quem ainda não foi lá fica o apelo para irem e apoiarem quem faz algo com alma porque a diversão é garantida. Checkem a agenda e saiam de casa!

Pedro Sousa

11/01/2015

Blowfuse + Selfish + Flaming Joseph @ Sabotage Club


Escrever uma review sobre um concerto que antes de acontecer já tinha dado tanto que falar é algo novo para mim. Um texto barato, baixo e que demonstra uma desinformação agonizante deixou-me perplexo, visto ter sido feito por uma revista com tantos assinantes e 'seguidores' assíduos. No entanto, quem anda atento às mais recentes 'sugestões' e textos dessa mesma revista talvez não fique assim tão surpreendido. O assustador no meio disto tudo é que certos acéfalos que têm tempo de antena limitado a 50 palavras consigam dizer tantas barbaridades que fazem com que uma banda seja impedida de actuar - refiro-me aos Major Javardolas, que o Sabotage Club impediu de tocar.

Sigamos em frente:
Primeira vez que fui ao Sabotage Club. Gostei do espaço, tem capacidade para cerca de 130/140 pessoas, o ideal para um concerto como o de 5ª feira, organizado pela Infected Records. A localização não podia ser melhor: Cais do Sodré. Metro, comboios e autocarros, tudo lá vai dar.. Falta é vontade do público, arriscando-me a dizer que não estavam mais de 60 pessoas na sala. Apesar de ser um concerto durante a semana, os Blowfuse - pelos concertos que já tinham dado e pela velocidade com que estão a crescer na Europa - mereciam mais gente para os ver.

Por volta das 22h30 - 30 minutos depois do agendado - a 1ª banda subiu ao palco.

Flaming Joseph: Primeira vez que os vi. Banda extremamente bem disposta, em constante contacto com o público e com um som que entra bem no ouvido. Tinham 2 músicas de ska que pôs umas quantas pessoas na sala a dançar, ainda que tenha fugido ao que tinham tocado até ali.
Antes de acabarem fizeram uma - não muito comum - apresentação dos membros, algo que, no meu ponto de vista, era dispensável.
Não conhecia o som da banda mas sei que quando acabaram o concerto tinha um sorriso na cara devido à mencionada boa disposição dos 3 membros.


Selfish: Estava com alguma expectativa para os ver. Set curto e que peca por ter partes demasiado longas sem voz. A sonoridade de algumas malhas é um bocado colada a Basement (o que é bom!) - principalmente uma mais calma que tocaram a meio do set -  e o Flávio surpreendeu-me com uma voz 5* (melhor que na demo - thumbs up, right?). Já numa das últimas faixas, o Flávio pediu um circle pit e o pedido foi aceite prontamente, provando assim que o pessoal só estava à espera de um incentivo.
Assim, os Selfish parece-me que vieram ocupar um espaço que há já algum tempo estava por ocupar na cena nacional.



Blowfuse: Cabeças de cartaz, vindos de 2 meses de tour e com mais 1 semana pela frente, os espanhóis da bela cidade de Barcelona vieram com uma energia que ia jurar que não tinham feito nem 1 quilómetro. Quem anteriormente já os tinha visto, sabe que nos brindam sempre com energia, mas desta vez acho também eles foram surpreendidos pela energia com que o público os recebeu. 20 miúdos na linha da frente, a saltar, com as letras sabidas e sem grande necessidade dos incentivos do Óscar, passaram essa energia para o Sabotage Club. Um set com sons do novo trabalho da banda ("Crouch") e umas quantas do "Into the Spiral" , todas elas com aquele cunho do Punk Rock dos anos 90, fizeram com que o meu programa para 5ªfeira à noite tivesse valido a pena. A fechar, os espanhóis tocaram uma cover de Pennywise.
Uma das melhores bandas, senão a melhor, de Punk Rock da Europa? Check!

tl:dr - Não comprem revistas da tanga. Noite bem passada e concertos com intensidade.

31/01/2013

Birds in Row @ Lisboa




Lisboa respondeu à chamada e encheu o Clube Recreativo dos Anjos para receber uma das principais bandas do hardcore europeu. Já bem longe vai o anonimato que vestia os franceses quando, em 2010, Leiria os recebeu. Convenhamos, se a "You, Me and the Violence", lançado no ano passado, não bastasse ser editado pela, discutivelmente, maior/melhor label da actualidade, o mesmo é ainda uma referência qualitativa da música mais pesada dos últimos tempos. 

Lisboa vive uma nova era no que ao hardcore diz respeito e, curiosamente, são vanguardistas da mesma (e da anterior), a No Borders. Vivendo um pós-FLULcore, Lisboa recebe, agora, mais uma inusitada sala, bem à porta do metro; certamente - como todas - mais habituada a outras lides musicais. A verdade, é que já há algum tempo uma sala não servia tão bem os seus propósitos. Só podemos apelar a que, salvo interferências exteriores ao hardcore, esta seja uma sala a manter e a estimar por todos.

Os Birds, vindos de Pombal, estrearam-se finalmente em Lisboa. Com uma recente demo editada, a banda abriu a tarde com a sua sonoridade mais negra. Não há muitas bandas que se possam gabar de soar tão sólidas, com tão boa postura de palco, na sua etapa inicial. Mas, convenhamos, apesar de novos em idade, os Birds já vão tendo alguma experiência. Com o eterno sindroma de banda de abertura, acentuado por um outro, o de banda recente, os Birds não chegaram a conseguir agarrar mais que a atenção do público presente na sala - e na escada à espera de entrar -, nem aquando de uma cover de Rise and Fall. É algo que virá com o tempo. 

No que à sonoridade diz respeito, convenhamos que a coisa não ficou muito mais... luminosa, com a entrada dos Arson em palco. A promessa de que "we'll burn this world, and raise it right after it falls" não pode fazer mais sentido. Com um crust dilacerante, assente numa dupla vocalização e numa bateria devastadora, os Arson cantam a destruição da civilização como a conhecemos. A verdade, é que se esta é a banda sonora oficial do fim do mundo, metemos as fichas todas na mesa. 

A derradeira perda de vergonha chegou, finalmente, com os Revengeance. A banda dava o mote - "mexam-se caralho" -, afinal, ali não havia espaço para estátuas. E quando, num concerto de hardcore à séria, se toca Infest e Negative Approach, não há mesmo espaço para estátuas. Mesmo que o chão da sala trema de tal forma que temamos pela nossa saúde - em relação a questões de saúde, ainda temos de falar sobre assuntos mais à frente. 

Intituidos de vez como uma das principais bandas de hardcore no nosso país os A Thousand Words continuam a apresentar o seu recente EP Sinners, pontuado com a surpresa no set ao ir recrutar à demo a música Down, continuando a distribuir lições de história através de Absentee Debate dos Unbroken. Por esta altura a música dos A Thousand Words já não tem segredos, por isso não é de estranhar que, praticamente desde o primeiro acorde, se solte o reboliço total frente ao palco. 

Não acontecem muitos concertos como o dos Birds in Row, seja em Portugal, seja onde quer que seja. Não é usual acontecer tamanha comunhão entre uma banda e um público com o que aconteceu em Lisboa - e no Porto, segundo reza a lenda, e que levou a banda a considerar os dois concertos como os melhores de sempre. Desde o primeiro segundo que uma massa corporal se colou junto ao palco, fundindo banda e público, não dando lugar, sequer, à possibilidade da banda pedir o que quer que seja do público. E, quando uma banda dá aquilo que os Birds in Row nos dão, nos deram, só assim podemos retribuir. É um amor que não precisa de palavras. Alimenta-se de música, de acordes, de riffs, de stage dives. De músicas como A Kid Called Dreamer ou You, Me and the Violence, onde o amor entre público e banda atingiu o êxtase. Há concertos que nos enchem e, este, foi um deles.

O Clube Recreativo dos Anjos tem tudo para se tornar a nova referência do hardcore lisboeta. Cabe a todos a preservação da sala para que, salvo interferências extra hardcore, a mesma se mantenha à disposição de todos. Mas, esta preservação, vai além de questões materiais. Faz-se, também, de preservação humana. Entrar na sala entre concertos tornava-se uma tarefa quase desumana. Devemos ter a liberdade de fazer o que queremos, desde que essa liberdade não esbarre na liberdade alheia. É uma conversa velha. Mas, numa sala pequena, cheia, sem janelas e apenas uma porta principal, que nem dá directamente para a rua, torna-se irresponsável fumar no interior da mesma. O ar torna-se irrespirável e, quem sofre, mais do que o próprio público mais sensível a estas questões, que vão muito além de certas filosofias de vida, são as próprias bandas. 


22/11/2012

A Thousand Words + LIFEDECEIVER + Northern Blue + One Last Struggle @ IST




Concertos punk/hardcore em Lisboa, em 2012, num período temporal que já se vem arrastando, tem, por esta altura, um nome próprio: No Borders, DIY Bookings. A pergunta não é inocente e fá-la Vitor Moura, o novo vocalista dos LIFEDECEIVER: Afinal, há alguém mais a organizar concertos em Lisboa?  Felizmente há (não podemos esquecer, nunca, o trabalho da Hellxis, do Congas, de pessoal de Loures e outros pontuais, quer de Lisboa, quer da Margem Sul), mas o que importa ressalvar é a importância que a No Borders tem tido. A sua contribuição para a respiração, natural e fluída  da cena punk hardcore de Lisboa - decerto quererão estar atentos ao que a booker irá trazer nos próximos tempos a Portugal. Quer porque vai desencantando salas pela cidade, quer porque vai aproximando, por isso mesmo, públicos não tão habituados a este tipo de som. Mas, principalmente, porque há sempre algo que lateja aquando dos concertos organizados pela No Borders: isto, ainda, é mais que música. Ricardo Martins, vocalista dos Northern Blue corrobora-o durante o set da banda, e os A Thousand Words disso fazem premissa, ao serem possibilitados de visitar a Europa fazendo aquilo que gostam mais. E era, essencialmente disto, que se tratava a noite. Afinal, o Instituto Superior Técnico recebia a primeira data da tour Europeia da banda.

A inusitada sala viu, por algumas horas, a sua função desvirtuada. Os jantares deram lugar a acordes e, bem composta, de forma crescente, ao longo da noite, a sala recebeu os excitantes One Last Struggle, a quem coube a função de abrir a noite. Falar dos One Last Struggle é remeter sempre para o mesmo: conteúdo. Há poucas bandas que encerram tanto feeling e tanto conteúdo nas suas músicas. Menos haverão que, com um estilo e sentido musical mais ligado a anos recentes do hardcore (vide Verse, Have Heart, Bane, etc), mantenha uma postura lírica e interventiva bem própria de bandas mais antigas. Tudo isto faz ainda mais sentido quando a banda finaliza com Spoken Part dos extintos (e icónicos), New Winds. 

Mas esta aura de fantasmas do passado não se encerrou com o fim do set dos One Last Struggle. Três quartos dos Day of the Dead estavam ali. Estavam ali a preparar a sua actuação. Estavam ainda membros/ex membros de Ghostdown, No Good Reason, WAKO, numa autêntica super banda. Mas uma banda não se faz somente de nomes, faz-se de música. E desde o primeiro momento em que os Northern Blue se iniciam, fica para a posterioridade a lembrança que, este, é todo um outro nível. Os Northern Blue vão muito além do que seria normal de uma banda de hardcore. As músicas são mais longas, são mais arrastadas. Têm passagens ambientais. Têm instrumentais exímios e têm muita arte. Têm, acima de tudo, uma alma que não passível de se limitar aos terrenos limítrofes da condição humana. Um concerto de Northern Blue extravasa o seu conteúdo musical. É assistir a um pedaço de cultura cantada.

Nesta altura ressalta algo, não à vista, mas à audição. Algo que, parece, não se cingir a concertos mais mainstream, onde os valores do hardcore pouco ou nada dizem a quem por lá pulula. Algo que, acima de tudo, e infelizmente, parece ser um mal geral. Há um intolerável défice de concentração por parte dos públicos. Há demasiado interesse em tudo o que rodeia o concerto em vez do concerto em si. Um concerto de hardcore passa muito por aquilo que é transmitido pela banda, não musicalmente, porque isso ouvimos em casa, mais aquele algo mais que nos podem transmitir. Aquelas palavras sábias que são verbalizadas entre músicas. E, isso, é algo que nunca vamos recuperar quando ouvimos um álbum. 

De formação renovada os LIFEDECEIVER trouxeram a sua music made from deceit e dizimaram os presentes com uma atuação, ora metralhicamente compressora, ora cilindricamente compressora. Ora fulminante, ora pestilenta. O mesmo é dizer que, na sua versatilidade, os LIFEDECEIVER tanto conseguem ir de um ritmo infernal, quase desumano, irrespirável, para um ritmo que quebra dorsais pela sua imponência. E é, aqui, que a banda mais se destaca. O sludge, doom, stoner, nunca foram escondidos, desde o início e com outras formações. Mas, é nesta combinação extrema, que reside a identidade da banda e a torna num ícone incontornável da cena punk hardcore nacional. Afinal, não há nada como os LIFEDECEIVER. E nem um novo vocalista o pode mudar, principalmente, quando o mesmo acenta melhor que uma luva lubrificada. 

Mas a noite era, mais do que em muitos outros concertos, dos A Thousand Words. Afinal, esta era a data que marcava o inicio de uma viagem de cerca de 15 dias pela Europa, que terminará dia 2 de Dezembro no Porto. E a melhor imagem que os A Thousand Words poderão levar de Portugal é todo o carinho e apadrinhamento que a banda recebeu desde que Crosses iniciou a caminhada da banda, até aos momentos que partilhou, ora com Ricardo Martins (Absentee Debate dos Unbroken), ora com o público. Quer através dos seus originais (com Sinners sempre no principal plano, e a Intro repescada à demo), quer das covers que trouxe para tour (Absentee Debate de Unbroken, já referida, mas também Bottom Feeder de Rise and Fall). 

Seria difícil que os A Thousand Words levassem uma melhor imagem de Lisboa, e de Portugal, na bagagem, que uma sala muito bem composta  e participativa qb. Mas, o que interessa, é que a tour lhes corra pelo melhor. E, por isso, o 4theKids só lhes pode desejar a maior sorte.

13/10/2012

For the Glory + Shape + Challenge + One Last Struggle @ Alvalade




Outrora distribuido por grande parte da Península, o lobo ibérico viu, desde 1940, a sua população total reduzir-se de forma drástica. Em Portugal, esta sub-espécie, passou a concentrar-se somente na zona norte do país, uma distribuição que não excederá uns modestos 18 000 km2, cerca de um quarto do território total espanhol pelo qual o lobo ibérico se dispersa. E, como em grande parte da actuação humana, primeiro destrói-se e, depois, então, remedeia-se. Um dos grupos que sentiu que era altura de travar a destruição de uma espécie única e que, desde 1985, tem um papel importantíssimo na preservação do lobo ibérico, é o Grupo Lobo, ao qual os For the Glory se associaram e, para o qual, o concerto da República daMúsica reverteu.

Também em vias de extinção estão bandas como os One Last Struggle e seria interessante, também, ter um concerto que revertesse para este tipo de problemática. Mais a sério, os One Last Struggle pertencem a uma génese de banda que, cada vez mais, parece não ser cool enough, para o público do hardcore. Vivemos num tempo em que tudo é fácil. Tudo é efémero. Tudo é vazio e transparente. Questionar é aborrecido. Pensar dá demasiado trabalho. Mas o hardcore sempre se pautou por ser mais que música, mesmo que essa não pareça ser a dinâmica actual e, é por isso, que um cartaz com bandas como os One Last Struggle, os Challenge, os Shape e os For theGlory, tem de ser um cartaz que urge preservar. Os One Last Struggle, como banda nova, surgem como uma espécie de pedrada no charco na passividade que vinha reinando. Traz de volta a ética, a intervenção política, a militância intervencionista de uns longíquos anos 80, ou de uns, não tão longíquos, Refused ou Verse.  Fruto de um incomum, mas aprazível, início a horas do show, os One Last Struggle actuaram para pouca gente - alguns não se terão apercebido que as portas já haviam aberto.  Como banda nova e, ainda sem nada lançado, os One Last Struggle terão conseguido aguçar a cusiosidade dos presentes. Nós por cá ficaremos para watch them rise.

Ver Challenge em 2012 é como viajar no tempo. O tempo de um hardcore sem merdas. Feroz, voraz, visceral. Aquele feeling de desatar tudo à bofetada e a correr em círculos. Houve, até, tempo para recuperar o circle pit em concertos de hardcore, também eles, uma espécie em extinção. Challenge é uma daquelas bandas que não engana. É rápido. É objectivo. Tocam Sick of it All e Floorpunch (No Exceptions com o Diogo de SYC) e têm uma demo mesmo à antiga. É mais que uma banda. Os Challenge tiveram o condão de acordar da letargia as Caldas da Rainha e tornaram a cidade num dos principais pólos contra culturais do nosso país. Um dos principais pólos do hardcore nacional. E, em Outubro de 2012, os Challenge são já uma das grandes bandas nacionais, uma das bandas que já tem o seu público. Já atingiram um estatuto em que as pessoas já conhecem as letras. Já cantam. Já dançam. Já correm em círculos. Já rasgam roupa e exemplificam o que é um concerto à caldas em plena Alvalade.  

A incógnita imperava em alguns. Após algum tempo de descanso de concertos, como seria a reacção do público aos Shape. Afinal, teria o hype esmorecido ou, a banda, já havia cimentado a sua posição no hardcore nacional de tal maneira que nem mesmo alguns meses sem tocar ao vivo tivesse tornado a banda em mais uma vítima deste mundo efémero. A resposta é dada assim que a banda dá os primeiros acordes. Aliás, ainda antes disso. Sabem aquele fosso, ou círculo, que se monta sempre em frente ao palco, como que com medo de bandas ou ninjas mais, ou menos, invisíveis? É coisa do passado. Sabem aqueles shows que gostamos de ver no computador, com filas compactas de gente aos pulos, de punho cerrado e a cantar como se a não existência de um iminente apocalipse disso dependesse, em frente do palco? Isso, sim, é coisa do presente. E Shape, actualmente, é isto. Uma injecção de compreensão. Uma compreensão mútua. Uma comunhão total entre banda e público. Durante 30 minutos nada mais interessa. Só aqueles acordes e aquelas letras. Tão certas. Tão incisivas. É uma banda que vale por si. Uma daquelas bandas, que só eles, conseguiriam ir às fundações, abrir o baú e, de lá, retirar No Spiritual Surrender de Inside Out. Para breve, ficamos a saber que estará uma nova edição prevista, que contará com novas e antigas músicas da banda.

Por esta altura (e antes disso, há que realçar), já eram mais de duzentas pessoas que compunham a República da Música. Mais de duzentas pessoas que se associaram a uma importante causa. Que fizeram, mais uma vez, mais que música de um simples concerto de hardcore.

E, destas mais de duas centenas de pessoas, muitas delas aguardavam com alguma impaciência o concerto dos Forthe Glory. Muitas delas pela primeira vez. Muitas delas mais novas nisto do hardcore que a primeira que, quem vos escreve, foi a um concerto de hardcore. E que compensador é ver miúdos e miúdas, no alto dos seus 15/16 anos, a ostentar orgulhosamente a camisola de uma banda que, quando apareceu no Campo Grande, ali ao lado, a primeira vez, ainda eles estariam, porventura, na escola primária. E nada é por acaso. Assim que se houve o primeiro riff de uma, mais que cansada banda (corre a lenda que foram centenas de km de viagem quase ininterrupta desde o Reino de Castela), a força da juventude imperou. Corpos a voar. Corpos amontoados. Corpos a dançar. Corpos aos pulos por toda uma sala que se concentrava compactamente junto daqueles que vieram ver. Um feeling especial que faz deste tipo de concertos, memorável. Para o público e para a banda.

Mais de duzentas pessoas abraçaram a causa de uma organização que, ao longo dos anos, tem lutado por uma causa especial, uma causa maior, em nome da diversidade animal. É nosso dever, enquanto ser humano, preservar as espécies que habitam o nosso planeta, tenham elas mais, ou menos, utilidade prática (não, espetar bandeirilhas em lombos não é uma utilidade prática). E, enquanto isto não acontece, respeitando o habitat natural dessas mesmas espécies, acontece com o apoio a instituições que visam salvaguardar o bem estar dessas mesmas espécies. Ao Grupo Lobo foi dado um obrigado por todo o trabalho desenvolvido ao longo dos anos na ajuda à preservação do lobo Ibérico. Porque desistir é impossível. Porque isto, é hardcore.