22/11/2012

A Thousand Words + LIFEDECEIVER + Northern Blue + One Last Struggle @ IST




Concertos punk/hardcore em Lisboa, em 2012, num período temporal que já se vem arrastando, tem, por esta altura, um nome próprio: No Borders, DIY Bookings. A pergunta não é inocente e fá-la Vitor Moura, o novo vocalista dos LIFEDECEIVER: Afinal, há alguém mais a organizar concertos em Lisboa?  Felizmente há (não podemos esquecer, nunca, o trabalho da Hellxis, do Congas, de pessoal de Loures e outros pontuais, quer de Lisboa, quer da Margem Sul), mas o que importa ressalvar é a importância que a No Borders tem tido. A sua contribuição para a respiração, natural e fluída  da cena punk hardcore de Lisboa - decerto quererão estar atentos ao que a booker irá trazer nos próximos tempos a Portugal. Quer porque vai desencantando salas pela cidade, quer porque vai aproximando, por isso mesmo, públicos não tão habituados a este tipo de som. Mas, principalmente, porque há sempre algo que lateja aquando dos concertos organizados pela No Borders: isto, ainda, é mais que música. Ricardo Martins, vocalista dos Northern Blue corrobora-o durante o set da banda, e os A Thousand Words disso fazem premissa, ao serem possibilitados de visitar a Europa fazendo aquilo que gostam mais. E era, essencialmente disto, que se tratava a noite. Afinal, o Instituto Superior Técnico recebia a primeira data da tour Europeia da banda.

A inusitada sala viu, por algumas horas, a sua função desvirtuada. Os jantares deram lugar a acordes e, bem composta, de forma crescente, ao longo da noite, a sala recebeu os excitantes One Last Struggle, a quem coube a função de abrir a noite. Falar dos One Last Struggle é remeter sempre para o mesmo: conteúdo. Há poucas bandas que encerram tanto feeling e tanto conteúdo nas suas músicas. Menos haverão que, com um estilo e sentido musical mais ligado a anos recentes do hardcore (vide Verse, Have Heart, Bane, etc), mantenha uma postura lírica e interventiva bem própria de bandas mais antigas. Tudo isto faz ainda mais sentido quando a banda finaliza com Spoken Part dos extintos (e icónicos), New Winds. 

Mas esta aura de fantasmas do passado não se encerrou com o fim do set dos One Last Struggle. Três quartos dos Day of the Dead estavam ali. Estavam ali a preparar a sua actuação. Estavam ainda membros/ex membros de Ghostdown, No Good Reason, WAKO, numa autêntica super banda. Mas uma banda não se faz somente de nomes, faz-se de música. E desde o primeiro momento em que os Northern Blue se iniciam, fica para a posterioridade a lembrança que, este, é todo um outro nível. Os Northern Blue vão muito além do que seria normal de uma banda de hardcore. As músicas são mais longas, são mais arrastadas. Têm passagens ambientais. Têm instrumentais exímios e têm muita arte. Têm, acima de tudo, uma alma que não passível de se limitar aos terrenos limítrofes da condição humana. Um concerto de Northern Blue extravasa o seu conteúdo musical. É assistir a um pedaço de cultura cantada.

Nesta altura ressalta algo, não à vista, mas à audição. Algo que, parece, não se cingir a concertos mais mainstream, onde os valores do hardcore pouco ou nada dizem a quem por lá pulula. Algo que, acima de tudo, e infelizmente, parece ser um mal geral. Há um intolerável défice de concentração por parte dos públicos. Há demasiado interesse em tudo o que rodeia o concerto em vez do concerto em si. Um concerto de hardcore passa muito por aquilo que é transmitido pela banda, não musicalmente, porque isso ouvimos em casa, mais aquele algo mais que nos podem transmitir. Aquelas palavras sábias que são verbalizadas entre músicas. E, isso, é algo que nunca vamos recuperar quando ouvimos um álbum. 

De formação renovada os LIFEDECEIVER trouxeram a sua music made from deceit e dizimaram os presentes com uma atuação, ora metralhicamente compressora, ora cilindricamente compressora. Ora fulminante, ora pestilenta. O mesmo é dizer que, na sua versatilidade, os LIFEDECEIVER tanto conseguem ir de um ritmo infernal, quase desumano, irrespirável, para um ritmo que quebra dorsais pela sua imponência. E é, aqui, que a banda mais se destaca. O sludge, doom, stoner, nunca foram escondidos, desde o início e com outras formações. Mas, é nesta combinação extrema, que reside a identidade da banda e a torna num ícone incontornável da cena punk hardcore nacional. Afinal, não há nada como os LIFEDECEIVER. E nem um novo vocalista o pode mudar, principalmente, quando o mesmo acenta melhor que uma luva lubrificada. 

Mas a noite era, mais do que em muitos outros concertos, dos A Thousand Words. Afinal, esta era a data que marcava o inicio de uma viagem de cerca de 15 dias pela Europa, que terminará dia 2 de Dezembro no Porto. E a melhor imagem que os A Thousand Words poderão levar de Portugal é todo o carinho e apadrinhamento que a banda recebeu desde que Crosses iniciou a caminhada da banda, até aos momentos que partilhou, ora com Ricardo Martins (Absentee Debate dos Unbroken), ora com o público. Quer através dos seus originais (com Sinners sempre no principal plano, e a Intro repescada à demo), quer das covers que trouxe para tour (Absentee Debate de Unbroken, já referida, mas também Bottom Feeder de Rise and Fall). 

Seria difícil que os A Thousand Words levassem uma melhor imagem de Lisboa, e de Portugal, na bagagem, que uma sala muito bem composta  e participativa qb. Mas, o que interessa, é que a tour lhes corra pelo melhor. E, por isso, o 4theKids só lhes pode desejar a maior sorte.

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