26/06/2011

Get Slapped 2011

Marcava 44ºC um termómetro – ao Sol, dê-se lhe o desconto – perto de Alvalade, durante a tarde de hoje. A verdade, é que já se sabia desde há uns meses que o Inferno havia caído sobre aquela zona de Lisboa, contudo, hoje fora puramente metereológico. Mas não foi este calor dantesco que afastou uma muito bem composta Associação Joaquim Xavier Pinheiro – que é como quem diz, a sala de Alvalade – de assistir ao que prometia ser um festival de chapadaria gratuíta.

Aos Shape começa a faltar palco para tanta música. E, talvez por isso, o vocalista da banda não se dê, sequer, ao trabalho, de o usar. Como seria de seu direito, afinal. A voz é feita do chão e, aquele que até temia começar por ser um início frio de matiné musical – sintam a ironia das palavras -, acabou por se tornar em mais uma prova do quão grande se está a tornar esta banda. Público a transmitir calor humano desde o início do show – tumba, outra! -, quer nos originais da banda, que, aliás, vão já sendo sabidos de cor, quer nas covers (The Machinist, Have Heart e 1992, X-Acto) tocadas pela banda. Aguarda-se com impaciência o lançamento de algum registo da banda.

Aos The Skrotes coube a díficil tarefa de conseguir dar seguimento ao concerto dos Shape. Com uma, visivelmente, menos cheia sala, os Skrotes ofereceram o que melhor o seu skate-punk- de-elevada-violência-e-rapidez possibilita. Os Skrotes têm uma onda muito característica e, com isso, um público sempre bastante fiel que – wait for it - não os deixa ficar a arder, mesmo com o calor que se fazia sentir. Da mesma maneira que a banda ofereceu aquilo que dela se espera: caos, anarquia músical e uma excelente presença em palco. Ah, e sets curtos, sem merdas. Claro.

Foram precisos oito meses para que os Reality Slap voltassem a tocar em Lisboa. Durante este interregno, a banda tem estado a gravar o novo álbum “Necks and Ropes” do qual apresentaram, em Alvalade, temas que o constituem. Músicas essas que demonstram uns Reality Slap com uma potência e poder que ainda não tinham sido vistos. Sim, ainda mais bruto que as faixas de registos anteriores. Ficou-se ainda a saber que, uma delas, contará com a participação do vocalista de Parkway Drive. E, como não poderia deixar de ser, o concerto de Reality Slap foi o verdadeiro Get Slapped Fest, ao qual não faltou gente a levar demasiado à letra esta intitulação (as melhoras a todos). Se já havia calor, os Reality Slap encarnaram o diabo e foi, definitivamente, o Inferno na Terra.

Os Devil in Me voltaram a tocar em Lisboa para encabeçar a matiné hardcore, bem típica do bairro de Alvalade – como, aliás, fizeram questão de deixar bem claro logo no início do brevíssimo concerto da banda, mas já lá vamos -, afinal, foi ali que começaram bandas como, por exemplo, os For the Glory. Os Devil in Me apresentaram, desde logo, uma surpresa: Mike Ghost no baixo, o que, porventura, deveria significar a introdução de “Claim My World”, do recente álbum da banda, “The End”, no set da mesma. Tal não chegou a acontecer. Mas vamos por partes. Os Devil in Me tinham uma sala à sua espera. Havia, até, quem tenha vindo do Alentejo para os ver – true story. E, desde o início do concerto, com “The End” e “Alive”, que praticamente toda a sala fez questão de o demonstrar. Mas o concerto dos Devil in Me estava condenado ao insucesso. Foram vários os problemas de som que a banda enfrentou, ao longo do seu set, que impossibilitou, em grande parte do tempo, ouvir sequer os instrumentos ou a voz. E, foi com apenas mais “On My Own”, “City of the Broken Dreams”, “Live Fast Die Young” e “Brothers in Arms” que a banda viu o seu concerto ser interrompido, de vez. Não, não por culpa dos já citados – e recuperáveis – problemas de som, mas por via de dois agentes policiais que obrigaram ao términus da matiné. Afinal, nenhum de nós está nisto para arranjar confusão.

Foi com este final abrutpo que, a quase cheia sala de Alvalade, se despediu de uma bastante saudável cena hardcore lisboeta, como que renascida das cinzas. Não foi o calor e o bom tempo que afastaram o público para a praia, como se poderia fazer prever. Quem sabe, não fora esse mesmo calor e bom tempo que levaram a alguns membros, bastante jovens, do público a deslocarem-se a Alvalade. Que o bom tempo continue, então.

05/06/2011

Hardcore Benefit Pelos Animais - Cacilhas

Foi com calor, bastante calor, e um mar de gente – ou talvez devamos dizer um rio de gente, dada a proximidade com o Tejo –, que o Revolver Bar recebeu mais uma saudosa noite de hardcore. Em trejeitos de beneficiência, pelos animais, juntaram-se quatro dos melhores representantes nacionais do género.

Percebe-se que a noite é especial – mesmo que não tenhamos em conta o cariz final do evento – quando, desde o primeiro minuto, da primeira banda, há uma envolvência e uma devoção do público perante a mesma. Aos Cold Blooded caberia a díficil tarefa de abrir uma noite que teria pela frente, ainda, Steal Your Crown, Devil in Me e For the Glory. Mas, apesar da relativa juventude cronológica da banda Lisbo-Almadense, o andamento que diversas tour já lhes conferiram, permitiram que a banda tivesse o público na mão, desde logo. Duros que nem betão, os Cold Blooded basearam o seu alinhamento na demo já lançada, bem como em novas músicas, não descurando ainda a participação de elementos próximos da banda. Seguramente, um dos mais sólidos abrir de noite que poderemos ter memória.

Os Steal Your Crown subiriam ao palco para dar continuidade à noite que, acima de tudo, era para os animais. Não o público, animais mesmo. Dos que ladram e miam e assim. E, como não poderia deixar de ser, ao jogar em casa, o concerto da banda da Margem Sul ameaçou a saúde de todos os presentes. No bom sentido, está claro. Duríssimo, será pouco objectivo para descrever o que ia decorrendo frente ao palco. Um entrega e uma adesão quase total de um público que, por esta altura, já enchia quase na totalidade a sala almadense.

Não se tivesse visto o que se passara anteriormente e, à partida, seria então a vez do primeiro nome grande da noite entrar em cena. Seriam os Devil in Me. Mas, como já se percebera, por esta altura nomes grandes já pouco sentido fazem, quando todas as bandas presentes têm um nível incontestável. Os Devil in Me trouxeram a Cacilhas um pouco de todo o seu repertório, trazendo desde o novo “The End” com “The End” e “Push, Twist & Turn”, passando pelo anterior “Brothers in Arms” através das músicas “Brothers in Arms” – que fechou o alinhamento – “Only God”, “Live Fast Die Young” e “From Dusk Till Dawn” e revisitando, ainda dos tempos de Lockdown, e presente em “Born to Lose”, “Alive”. Não foi dos concertos mais longos da banda e, por vezes atraiçoado pelo feedback exagerado que o Revolver pontualmente presenteia – algo que será ainda mais problemático em For the Glory, mas a seu tempo. Muita jovialidade esta banda arrasta, pelo que é sempre bom que a mesma tenha contacto com este tipo de eventos, com este tipo de finalidade.

Aos For the Glory coube então a honra de encerrar a noite. A banda trouxe a Cacilhas um alinhamento baseado especialmente no novo “Some Kids Have No Face”. “Some Kids Have No Face”, “Armor of Steel”, “All the Same”, “Where’s Justice” – com dedicatória especial aquilo que não tem lugar numa cena como a punk hardcore -, e “Behind My Back”, foram as músicas do novo disco que o repleto e devoto Revolver Bar pode cantar e dançar, no espaço que conseguisse arranjar para tal. A “Survival of the Fittest” a banda foi ainda buscar a música que o entitula “Survival of the Fittest”, “All Alone” e “Fail Me”, indo ainda buscar a velhinha “Won’t Crawl On My Knees” ao bau de “Drown in Blood”. Visitando ainda os compêndios mais cruciais do hardcore, os For the Glory surpreenderam tocando “Things We Say” dos Gorilla Biscuits. Afinal, numa noite como esta, uma cover só poderia mesmo vir de uma banda com um animal no nome. Pena que, a espaços, o já referido feedback, eco, o que se lhe queira chamar, do Revolver Bar tenha condicionado um pouco a percepção do som da banda, confundido demasiado os instrumentos.

Uma noite em que, público, bandas, organização mas, acima de tudo, associações de animais ganharam e só têm de ficar felizes pela repercussão que teve. Muito público a mostrar que, como se foi dizendo ao longo da noite, não são necessárias bandas estrangeiras super cruciais para encher salas em Portugal. São, pelo menos, necessárias boas ideias, boas organizações. Um noite que fez todo o sentido pois, afinal, nunca estivémos tão entregues à bicharada como agora. Há, pelo menos, que os estimar. Aos animais.