21/03/2012

Bane + Cruel Hand + Rotting Out + Shape @ Cacilhas



Quando nos anos 60 e 70, uma significativa parte da população nacional compreendeu as necessidades de fazer uma vida melhor lá fora, muitos rumaram a Oeste. Saíssem do território continental, saíssem do território insular,  era grande, a probabilidade, do primeiro país que se encontrasse, horas e dias após o embarque, fossem os EUA. Massachussets tornava-se, assim, o segundo estado americano com maior número de emigrantes de origem lusa ou luso-descendentes. Perfaziam 4,4% da população total do estado em 1990. Mas, no sentido inverso, não haverão grandes registos de fluxo migratório. Mesmo que, orientado a este, Portugal seja, em princípio, o primeiro país a surgir. Talvez por isso, também os Bane, tenham demorado cerca de 17 anos, quase duas décadas após a sua formação, a descobrir Portugal. A visitar-nos. Mesmo que, bandas como os Mental, há muito lhes tivessem dito o quão prazerosa poderia ser essa visita. Mas o povo também diz que, o valor da tardia chegada, é sempre maior que o da nunca chegada. E Cacilhas, como bom “porto” que é, recebeu os Bane, finalmente em Portugal.   

Numa noite em que os Metallica pareciam omnipresentes, os Shape trataram de ir ao baú das diabruras buscar uma surpreendente Hit the Lights. Num ambiente ainda frio, distante e com menos público que aquele que seria de prever (sentimento comum a toda a noite), os Shape demoraram algum tempo até finalmente agarrar o público. Terá acontecido já pelo meio do seu set, com Life’s Hard. Não ficaram por revelar mais surpresas, apesar da expectativa em ouvir X-Acto. Mas os Shape não são uma banda de covers e, por isso, quando Vampires, WYLD ou Rotten Inside entram em palco não há espaço para muito mais. Nem para a vergonha ou frieza. E o público finalmente lá se solta. O resto, é o que já todos sabemos.

Em estreia absoluta na Europa, os Rotting Out são uma das mais excitantes bandas novas do hardcore americano. Afinal, “Street Prowl” havia sido recebido no ano transacto como um dos grandes. Naquela que poderá ter sido uma das mais interessades lutas pela beleza pessoal, cremos Walter Benjamin possa ter sido desqualificado por falta de dentes. Mas a vida é assim. Tanto tira, como dá. E Walter Benjamin poderá não ser um sex symbol capaz de fazer vídeos onde em cada take surge com o guarda roupa remodelado, mas compensa tocando baixo nos Alpha & Omega ou sendo a cara dos Minority Unit. E é de música, de conteúdo que gostamos. Os Rotting Out estreavam-se na europa e, talvez por isso, tenham querido abrir o concerto em grande. “Laugh Now, Die Later” foi como uma chapada de luva branca. E a sala rendeu-se aos californianos. De presença inesgotável em palco, a banda e, especialmente, o seu vocalista, viram-se a braços com os irritantes problemas técnicos, a nível de microfone, que parecem ter limitado bastante esta estreia em Portugal, ou não tivessem arruinado por completo, para seu desespero, “Dead to Me”. A banda revisitou não só o seu LP, como foi ainda buscar músicas a Vandalized (“Skin”) e à sua demo (“Kobe Bryant Lifestyle” e “Positive Views”).

Num daqueles volte-face surpreendentes, que por vezes ocorrem, os Cruel Hand formaram um culto muito próprio, que os tornou tanto ou mais relevantes que o seu suposto projecto principal: os Outbreak. Mas, não mais uma side project, os Cruel Hand lançaram alguns dos mais relevantes registos do hardcore mais recente, como o são Prying Eyes ou Without a Pulse. São, também, uma das figuras principais da, relativamente recente, trend do Metallica-core. Algo que, diria, exibem orgulhosamente em tshirts tie dye. De boas recordações nacionais, fruto de vários concertos tocados no ano passado com os ColdBlooded, os Cruel Hand pareciam surpresos com a recepção que iam recebendo ao longo do desfile de “hits” que iam providenciando. Das mais antigas “Under the Ice” ou “Crashing Down”, às mais recentes “Day or Darkness”, “Two Fold”, “Lock n Key” ou “One Cold Face”, num set onde não faltou a óbvia “Life in Shambles”. E quando uma banda termina um concerto sucedendo “Hounds”, “Dead Weight” e “Begin Descension” pouco mais resta dizer. Sólido, pesado e groovy. Assim são os Cruel Hand.

Um sentimento agridoce fica, quando uma das mais importantes bandas dos últimos 20 anos e, seguramente, uma das mais influentes, nos visita pela primeira vez e a sala não está cheia. Não está a abarrotar. Não é, apesar de tudo, algo que tire da memória num futuro longo, o concerto dos Bane. Mesmo que, para isso, a banda tenha de entrar de pé esquerdo com Speechless, que não esteve à altura da expectativa. Como não teve, a ausência de músicas como Ante Up ou The Young and the Restless, num algo incompreensível set de 10 músicas. Felizmente, também diz o povo que a qualidade se sobrepõe, frequentemente, à quantidade. E foi com a intensidade, e a sensibilidade, de músicas como As the World Turns, My Therapy, ou Swan Song – a acabar de forma memorável o concerto – que a banda nos convence. Que como que nos pede desculpa por só agora chegarem. E nós desculpamos. Cantando em uníssono Count me Out, Ali vs Frazier ou Superhero.  Invadindo o palco em Can We Start Again. E, afinal, poderíamos começar de novo?

11/03/2012

Burning Man - Ronin




“Ronin”. “Ronin” é solitário. Vagueia. Não tem destino, flutua. “Ronin” é sujo, é sludge que não perde o core. São riffs que dilaceram que nem daishö, e headbangs que te levam ao seppuku. “Ronin” marca a estreia dos Vianenses “Burning Man” e cuidado, não há código ou ética que o valha, não é, portanto, catalogável. Não se quer. Deves temer, contudo. Por ti, pelos vizinhos, por de onde sai o som que ouvirás. 

Há apenas uma verdade. Esta verdade. Não importam as associações possíveis a bandas como os Mastodon ou Men Eater. Com letras que remetem a Converge ou Rise and Fall ou que soe Deathwish-ish. “Ronin” tem a sua própria vida, o seu próprio código. “Dead Rabbits” define: “heavy drinkers, loyal brothers, unique murderers”. Os “The Rat” deste mundo que se acautelem, que temam. Pelo riff, em loop. Pela sujidade de uma voz sempre arrastada, numa onda que leva tudo em diante. Que queima. Todas as mentiras e memórias. Sem contemplações. “I´ll pull the trigger with no regrets, you will fall and i will stand”. “Our Thing” surge dilacerante, num festival de riffs. São headbangs que partem a espinha. E a voz, essa, surge desértica, envolta em pó. Em tom e colocação diferente, desenjoa. Varre tudo. Mas os “Burning Man” são “Wise Guy(s)”. Agarram o seu destino pela garganta, partem-lhe as mãos. Chegam ao topo da montanha. “Ronin” é isto. É chegar ao topo da montanha. Arrastar tudo o que se conhecia para o abismo. Não há lugares cativos. “Ronin” é sacrifício; é preserverança; é lealdade. Quem diz que Viana morreu? Chegaram os novos daimyö. “Triad” são dez mil sabres. São cinco trovões que se abatem sobre ti. São a sentença de uma nova alma. “Ronin” marca a posição dos Burning Man no panorama underground nacional; Traz nova vida a Viana. Esta é a lenda de um grupo que vinga a reputação de Viana de Castelo. 

Gravado nos Blacksheep Studios, “Ronin” tem data de edição já em Abril próximo e marca a estreia dos Burning Man. “Dead Rabbits” e “The Rat” estão já disponíveis para audição no facebook da banda e a edição de “Ronin” terá cds e cassetes a cergo da Shut Up and Play.