06/12/2010

Blame it on the Ocean - Ruins

La Bella Italia talvez não seja o recanto europeu mais propício ao hardcore. Talvez, quem sabe, por não vir servido com massa. Mas uma coisa é certa, das poucas bandas que chegam até nós de Itália, há um certo selo de garantia de qualidade. Um pouco na onda do “poucos, mas bons”. Sabemos que Strenght Approach é bom, que The Kill é bom e que Gold Kids é excelente. Se quisermos considerar como italiana, sabemos ou esperamos, que Runes irá ser igualmente excelente. Aqui surge outro “Ruins”. O recente EP dos italianos Blame it on the Ocean.

Os Blame it on the Ocean são um quarteto italiano que toca hardcore na onda de American Nightmare, Lewd Acts e, mais especialmente, Cursed. A banda demorou um pouco a encontrar a solidez e a coesão enquanto banda, desde que em 2008 se formaram. Alcançada, soltaram a sua demo em 2009 e, finalmente, em 2010 chega-nos “Ruins”: O ep de estreia da banda.

Aprazem-me, especialmente, registos pouco convencionais em termos líricos. Isto é, não gosto particularmente de músicas cujas letras seguem uma tendência – ainda que natural – de estrofe-bridge-refrão-estrofe-refrão, mas sim como que um pequeno texto, contínuo, ao longo da música. Os Killing the Dream fazem isto muito bem, os The Carrier fazem-no muito bem, os American Nightmare fizeram-no eximinarmente. E estes Blame it on the Ocean seguem igualmente esta linha: construção lírica com base numa ideia, um texto. Simples e eficaz. Em termos de conteúdo, a coisa não falha mas também não inova. Temos os temas usuais: cena hardcore, religião e duas músicas de mensagem esperançosa embebidas em soturnismo músical, complementadas por dois trechos instrumentais. Não faltam, ainda assim, algumas estrofes mais memoráveis. Tenho de destacar: “And thousand miles away\Can't break this bond\I am the perfect shoulder\You can cry upon” (Runaway). Musicalmente, é o que já referimos: soturnismo e Cursed como palavras-chave.

Os Blame it on the Ocean surgem como uma das surpresas do hardcore europeu do presente ano. “Ruins” é bastante sólido, é musicalmente irrepreensível, é líricamente interessante. Os italianos começam a perfilar-se como um dos países em destaque do hardcore mais moderno, mais melódico talvez, a par dos incontornáveis ingleses e alemães. Fica a promessa da banda de estarem a trabalhar em novo material “heavier, and sicker”. Nós estaremos cá para ouvir.



Keep Walking - Pirate's Heart


É preciso, por vezes, um “Pirate’s Heart” para que se aguentem muitos dos contratempos e adversidades que a vida nos traz. Estejamos a falar de questões pessoais, estejamos a falar de questões profissionais. Musicalmente, será isso que os Keep Walking pensarão.

“Pirate’s Heart” estava gravado, na gaveta portanto, desde Janeiro de 2009. Ou melhor, o álbum tivera as suas sessões de gravação já nos idos meses de Dezembro 2008 \ Janeiro 2009 e voou até Nova Iorque, até Alan Douches, a fim de ser masterizado no West West Side Studios. Reza a lenda que terá sido intenção ser lançado nos meses que se seguiam mas, como podemos desde logo antever, contratempos se intrometeram e somente agora, juntamente com o terminus da banda, “Pirate’s Heart” chega até nós.

“Pirate’s Heart” é, então, uma boa mostra do que de melhor se faz por Portugal em termos mais melódicos. Dentro do hardcore, claro. Músicas que remetem para Modern Life is War, para Dead Hearts, para Comeback Kid... Liricamente interessante e, relativamente complexo – isto é, sem uma composição clássica de texto musical – “Pirate’s Heart” segue um pouco o conceito perceptível pelo título: vivências. Pessoais e colectivas. Desilusões, política, arrependimentos, confiança, esperança. É por aqui que “Pirate’s Heart” navega. O álbum conta ainda com a participação de Poli (Devil in Me) e de Mike Ghost (Man Eater) nas músicas “Fireball In a Single Second” e “Pirate’s Heart” respectivamente, sendo que, esta última, marca mesmo o ponto alto do álbum, metaforizando a vida com histórias de pirata. Musicalmente, a faixa mais interessante do álbum, que culmina com sons de gaivotas e mar. Afinal, estamos no Algarve.

“Pirate’s Heart” chega então até nós, finalmente, sem chegar a ver a luz do dia de forma conveniente e como merecia – isto é, sem uma edição física e sem um conjunto de release shows -, mas chega. Gravado no Blacksheep Studios por Makoto Yagiu (If Lucy Fell) “Pirate’s Heart” marca o fim de mais uma banda em Portugal.

Da nossa parte resta-nos desejar a maior sorte futura aos membros.

Keep Walking Myspace

20/10/2010

Devil in Me - The End

Uma das coisas boas que sentimos quando ouvimos um disco novo de determinada banda – que não o primeiro, entenda-se -, é quando nos apercebemos que a banda cresceu, o som amadureceu e, de certa maneira, o seu estilo se aprimorou.

Isto, tudo, acontece com “The End” o mais recente e recém editado álbum dos portugueses Devil in Me, que têm estado especialmente ocupados nos últimos tempos, contando com lançamentos de concerto em formato DVD, edição de um EP de covers e ainda tours com algumas das bandas mais importantes do panorama hardcore mundial, como os Madball ou os Comeback Kid. E, terá sido – possivelmente – desta tour que terão saído muitos dos sons, melodias e líricas de “The End”, bem como a ideia de colaboração com Andrew Neufeld (vocalista actual dos canadianos Comeback Kid) para a produção do disco dos portugueses. Facilmente será de adivinhar que Neufeld participa igualmente, com vocais na faixa “The Fall”.

“The End” como já referi, é Devil in Me. Mas, da mesma maneira que é Devil in Me, mostra uns novos Devil in Me. As guitarras estão mais melódicas, mais trabalhadas, o álbum\som é ainda mais épico que os seus antecessores, as letras mais artísticas e, mais interessantes e menos cliché (vide The End, Postponed, The Fall). Ou seja, a banda põe de lado o seu hardcore mais musculado, mais macho e viril – especialmente notado em “Born to Lose” -, perde igualmente muito da onda Sick of it All de “Brothers in Arms” e ganha algo mais próximo de uns actuais Comeback Kid. (isto tudo, meramente para que, quem ainda não tenha ouvido o álbum, saiba o que esperar, não significando, de todo, que a banda se tornara uma cópia de Comeback Kid). O álbum conta, ainda, com as participações de Mike Ghost na faixa final (Claim My World) - estreitando as linhas entre o som de Devil in Me e de Men Eater – e de Andreia Duarte em “Push, Twist & Turn”.

Os Devil in Me cimentam, assim, definitivamente, a sua posição como uma das bandas mais importantes do género em Portugal sendo, possivelmente, a banda com maior projecção na actualidade. “The End” faz juz a esse titulo e promete colocar os Devil in Me na rota das principais cidades europeias. O álbum tem a assinatura da Rastilho Records e estará disponível nas lojas portuguesas a partir de dia 8 de Novembro.

11/05/2010

More Than Life - Love Let Me Go

Quando uma banda de hardcore atinge os tops de audições via myspace, é sinal que a ela está, intrinsecamente, associado um hype, de alguma forma, desmedido. É um facto, os More than Life são, aos dias de hoje, a banda mais popular do hardcore europeu.

Depois do mais que aclamado EP de estreia da banda, “Brave Enough to Fail” – segundo registo físico depois da demo “Prelude” –, foram precisos cerca de dois anos até que algo novo desta banda pudesse ser ouvido. E a antecipação é por demais evidente quando, há semanas atrás, a banda inglesa possibilitou para audição quatro novas músicas que seriam parte integrante do LP “Love Let Me Go” que, na altura, estava para breve a sua edição e, como disse, essas mesmas faixas transportaram os More Than Life para os topes do Myspace.

E esse dia chegou. O mais que aguardado e antecipado álbum de estreia daquela que, volto a frisar, é a banda europeia de hardcore mais popular actualmente, está por aí para ser ouvido e, acima de tudo, apreciado.

“Love let me Go” segue a toada do que melhor se faz pelo, igualmente bastante popular nos dias de hoje, hardcore melódico. Na senda de bandas como Defeater, Killing the Dream, The Carrier ou, dos também europeus, Dead Swans ou Gold Kids. Bandas que elevam o hardcore a um estatuto muito mais artístico, que não se ficam pelas fronteiras do som tradicional do hardcore, da generalidade das bandas. Bandas que empregam uma maior melodia instrumental e que a suportam com letras mais pessoais e instrospectivas.

Extremamente melódico e com imensas partes de instrumental, “Love let me Go” quando completado pela voz do vocalista, torna-se denso, depressivo, emocional. Aliás, é também um facto que existem poucos vocalistas no hardcore actual a conferir a emoção e o sentimento que o vocalista dos More than Life emprega às músicas da banda. Pequenos trechos como: “fading away with the scarlet skyline, pray for the sun to set earlier every fucking day rotting away, the price of love we pay, i put the last red rose on her grave”, “i've lost track of everything, this life has lost all meaning, its too late. there's no time for goodbyes, my youth has given up on me, im dying inside, is this all i know, this deathbed is my home, take my life away” ou ainda“Daisy hill so easily you always get to me, i can hardly breath . At the end of the street i swear i saw myself walk in front of the road and with a flash of i light i was gone . i was fucking gone. in my dreams why is your house number upside down, why do floorboards creek so loud as if death was chasing me, since the day i was born deaths been chasing me back home.” São mais que exemplificativos do poderio emocional que a banda atinge. Ora, com toda esta envolvência lírica, a melodia instrumental e a emoção que o vocalista emprega, estamos na presença de um dos melhores álbuns do ano em hardcore.

Num álbum que é culminado com a faixa que o intitula, os More than Life atingem um nível épico pouco conseguido em álbuns de hardcore. Faixa essa que conta ainda com a presença do vocalista dos The Basement, que emprega uma toada mais cantada à parte vocal.

“Love let Me Go” é assinado pela Purgatory Records e conta ainda com a colaboração do vocalista dos Dead Swans em “Take My Life Away” e contém ainda trechos de Meet Joe Black em “Obsession”. Quem se conseguirá alhear deste – bom – hype?



19/02/2010

Critical Point

Surgidos de Faro os Critical Point perfilam-se, juntamente com os Pressure, como os porta-estandarte do hardcore straight edge nacional. Para além disso, os Critical Point são ainda uma voz importante na defesa e disseminação da mensagem vegan e vegetariana.

Com uma formação já conhecida de todos os nós, os Critical Point trazem a surpresa que é ver Rafael Madeira na liderança da banda. Anos depois de passar o tempo a bater na tarola de bandas como Wise Up, Pressure, Pointing Finger ou mais recentemente nos Broken Distance, surge agora ao microfone da recente banda algarvia. A acompanhá-lo estão os companheiros de longa data, David Rosado (Bateria), João Boto (Guitarra) e Valter Ascensão (Baixo).

Como desde logo podemos perceber, os Critical Point trazem-nos o já típico Youth Crew de Faro. Mensagem baseada nos valores do straight edge e do vegan\vegetarianismo e ainda sobre o hardcore em si, os que tanto o amavam e que agora sumiram por misterioso acontecimento.

A Salad Days traz-nos então 4 músicas – pouco mais de 5 minutos – de hardcore youth crew bem ao estilo nova-iorquino de uns Youth of Today que, não sendo surpresa para ninguém, é a banda referência dos Critical Point, sendo este o seu terceiro lançamento depois dos registos de Please Die e de Not Sorry – igualmente disponíveis, ainda.

A banda tem já disponível algum merch e demos pelo que os interessados poderão fazer a sua aquisição em http://www.myspace.com/criticalxpoint e em http://www.myspace.com/saladdaysrecs.



01/02/2010

Broken Distance - Último Concerto

There are no more words that they can speak.”

Os Broken Distance encerraram, no passado sábado dia 30 de Janeiro de 2010, as suas funções enquanto banda. Quase quatro anos depois do seu primeiro show, – Icepick em Faro a 1 de Junho de 2006 – a banda algarvia dá assim por terminada a sua carreira sob o nome Broken Distance.

A fim de tornar ainda mais memorável este concerto, a banda decidiu que o mesmo iria ser realizado em regime de benefit - onde se faria uma recolha de roupa a reverter para a Junta de Freguesia de S.Pedro e a entrada do show reverteria para o Movimento Pro Animal de Faro – algo que, infelizmente, parece ser cada vez mais raro num movimento pro social como o é o hardcore.

Este foi, portanto, o segundo concerto de despedida mas o último mesmo, após o concerto de 29 de Novembro do ano transacto no Montijo.

Desta feita, a acompanhar os Broken Distance estariam os Pressure e os A Thousand Words, ou seja, um line-up completamente algarvio, pelo que todos jogavam em casa.

Algo longe de sentir razoável calor conterrâneo estiveram os Pressure, a quem coube a honra de abrir o concerto de despedida de uma das mais importantes bandas nacionais dos últimos anos. Os Pressure, como sabemos, são igualmente uma das bandas nacionais mais importantes dos últimos anos, ainda assim, sob outro nome. Com um set curto e intenso q.b., a banda hardcore youth crew de Faro apresentou os seus temas, baseados na demo lançada em 2009, bem como uma cover de Youth of Today (Break Down the Walls) à qual poucos não conseguiram ficar alheios. Tempo houve, ainda, para no fim do set da banda mais straight edge portuguesa actualmente, alguém desabafar o seu desânimo pelo que acabara de ver.

Acompanhados por uma crew numerosa – não straight edge, mas youth – os A Thousand Words foram a Faro representar a “street” de Quarteira. Claramente influenciados pela cena hardcore mais pesada de Nova York – ainda que os Terror sejam de LA – a banda de Quarteira desempenhou uma boa surpresa para quem não esteja acerca da sua popularidade pelas terras do sul. Óptima adesão por parte do público presente na varanda da Associação de Músicos de Faro, praticamente cheia.

“I’m crawling alone…” ou não.

Chegara então a hora dos Broken Distance cantarem pela última vez a banda sonora dos nossos tempos áureos. Como disse, cerca quatro anos depois a banda algarvia deu então por terminada a sua actividade musical, é seguir agora os projectos paralelos dos membros.

Como não poderia deixar de ser, a banda protagonizou o show mais intenso da noite. Por parte do público, notava-se que estavam lá por eles. Renderem-lhes a última homenagem possível e agradecer-lhes a importância que tiveram no panorama hardcore português. Isto, é dizer cantar ao longo de todo o set, dançar, saltar… Tudo o que é possível fazer-se para que o concerto pareça um daqueles last shows que tanto gostamos ver no dvd lá de casa. A banda apresentou um set baseado no seu EP “Hourglass”, presenteando ainda assim a Associação de Músicos de Faro com uma surpresa: “Lovebites and Stereo” - feel the burn under my skin, I’ll soak my wounds in gasoline – que, reza a lenda, não terá sido, ou pouco terá sido ensaiada. Nada que se percebesse ainda assim. Para finalizar, o baterista da banda (Ludgero Urbano) rematou o set com a cover de Cro-Mags (Don’t Tread on Me) na voz. Aqui, poderia ter entrado em cena, no final, a rapariga que não terá gostado de Pressure para sinalizar a fraca afluência do público para aquela que tem, opinião de peritos, o melhor álbum hardcore de sempre.

Faro viu então mais uns filhos pródigos terminar, o que é, acima de tudo, mais uma perda para o hardcore nacional. Para quem gosta da banda, resta sempre a memória, lutar pela recordação das letras “I’m trying, trying to rememeber those words. I’m trying, trying to forget how it hurts” e o desabafo de que “we only value things once they’re gone”.