De regresso ao Montijo e, em estreia absoluta nestas lides, o hardcore visitou a Timilia das Meias, o novo centro cultural desta pequena cidade, mais habituada a outro tipo de... touradas. Ponto final da tour europeia para os algarvios Critical Point, a tarde contou ainda com a presença dos Hard to Deal, dos Shape e dos Step Back! - também eles de regresso aos concertos na zona de Lisboa.
Infelizmente, não foi uma muito concorrida Timilia das Meias, uma nova venue que aparenta apresentar condições de topo para receber este tipo de concertos, que recebeu de volta o hardcore no Montijo. Uma sala com um som perfeito e, diria até, o tamanho certo para este tipo de concertos. Faltou principalmente público local, - algo que é capaz de desmotivar o mais apaixonado dos promotores, totalmente imerecido por todo o dinamismo que os mesmos ao longo dos anos vêm imprimindo à cidade -, para acompanhar as cerca de meia centena de pessoas que assistiram a mais uma matiné hardcore.
Os Hard to Deal vão, a pouco e pouco, ganhando a consistência ao vivo que os tornará uma ainda melhor banda. Ficando, por isso, sempre a ideia, a cada concerto, de que se vira o até então, melhor concerto deles. A banda apresentou os temas do seu EP de estreia (“Never Ending Story”), bem como uma música nova – aparentemente intitulada “Carry On”, mas ainda não oficialmente -, que demonstra, só por si, o talento da banda e para a qual ficam reservadas grandes expectativas para a sua audição a um nível mais profissional. Sofrendo do estigma de banda recente, os Hard to Deal ainda não conseguem ter a adesão – merecida – do público, onde o mais perto disso terá acontecido durante a cover “I Saved Latin” dos American Nightmare.
Os Shape voltaram a incendiar uma sala por onde passam e, isto, tem bastante a ver com a fiel crew de apoio que sempre acompanha a banda. Num set claramente mais curto que o habitual na banda, não faltou ainda assim, a emoção que sempre os caracteriza, principalmente em músicas como Vampires ou Rotten Inside. A banda voltou a incluir a música “1992” dos lendários X-Acto no seu set, um momento que resulta sempre numa grande adesão do público.
Com o seu regresso a Portugal, os Critical Point deram por terminada a tour europeia que haviam iniciado a 4 de Novembro. Os algarvios são de uma espécie que parece já extinta em Portugal. Youth Crew clássico, sem merdas, de orientação posi e muito vegan straight edge pride. A verdade é, já não se fazem bandas assim. Uma banda que vive bastante do spoken word, com palavras sempre bastante conscientes. Os Critical Point apresentaram um set pautado por músicas da sua demo, do seu EP “Trial & Error” e ainda uma cover de Mainstrike e Judge que, “se algum straight não conhecer, se deve envergonhar”. A banda parece ir recebendo o mais que merecido reconhecimento do público – que ajudou acanhadamente o vocalista Rafael Madeira. Esta é uma banda cujos membros já muito deram ao hardcore português e uma das razões pelo qual o mesmo subsiste e acontece frequentemente em várias zonas do país. Algo que, não fora a qualidade da banda, deveria ser garante, por si só, de grande respeito e reconhecimento.
De regresso à zona de Lisboa, estavam os Step Back! Que ficaram encarregues de encerrar a tarde de concertos no Montijo. Limitado fisicamente, o vocalista da banda foi pedindo a adesão do público, desde que não se lhe tocasse em zonas sensíveis. Pelo menos, de forma agressiva, não sabendo qual a reacção que adviria de um toque mais carinhoso. Mas ninguém queria que houvessem “stitches out” que não somente musicais e, quanto a isso, tarefa cumprida. Numa palavra, o concerto dos Step Back! É groove. Uma voz super versátil e, como disse, groovy as fuck, colorida por riffs e mais riffs, aos quais parece, ainda assim, carecer de um outro acompanhamento a nível de guitarra. A banda foi apresentando um set bastante concorrido, de especial incidência sobre músicas mais recentes, ao qual não faltou uma fidelíssima cover de Cro-Mags (“World Peace”). Espera-se agora que os mercados financeiros melhorem para que a banda tenha viabilidade económica para se lançar na gravação de novos temas e um novo registo, quiçá, um longa duração.
Concertos como estes do Montijo são o exemplo da preserverança, do amor pelo hardcore e pela cena local, do empreendedorismo e do dinamismo que pessoas como o Filipe e o Fábio. E são também exemplos da importância que o “support your local scene” tem em pequenas cenas underground como Portugal. O repto que aqui deixamos, é o de apoiarem os Filipes e os Fábios da vossa terra. O hardcore não existe só nos grandes centros e nas bandas estrangeiras. O 4theKids só pode agradecer que concertos deste género vão continuando a acontecer pelo país, mesmo que não tenhamos a possibilidade de os frequentar.
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