Na noite de regresso dos americanos Death Before Dishonor houve pouco de tudo um pouco. Confuso? É ler para perceber.
Era uma noite, à partida, pouco conveniente para o hardcore. Os Sum41 tocavam ali praticamente ao lado – afinal, bastava atravessar o rio e dar um passeio à beira mar – o Benfica tinha acabado de jogar, o Sporting e o Porto jogavam à mesma hora, Paus iria tocar ali ao lado – para quem, novamente, quisesse fazer um passeio à beira mar – e nem duas semanas antes os Terror por ali, no mesmo espaço, tinham passado. Tudo factores que, conjugados, proporcionaram aos Death Before Dishonor um ambiente bastante diferente dos que haviam experimentado nas três passagens anteriores por Portugal. Mas já lá vamos. Curiosamente, a metereologia que vinha assolando a zona nos últimos dias, nem fora um empecilho. Talvez medo de um rio agitado.
Após algumas alterações ao cartaz inicial e desistências de última hora, coube aos Shape fazer a abertura da noite que consagrava a estreia dos Mongoloids em Portugal, bem como o regresso dos Death Before Dishonor ao nosso país.
Os Shape, para quem não sabe, é uma banda relativamente nova a tocar um hardcore na onda de Verse. Cada vez mais coesos em palco, com uma presença que acaba por aliar uma inquestionável qualidade musical a um agradável espectáculo visual, para quem gostar de ficar somente a assistir. E, como banda relativamente nova que é, pouca adesão humana sugere. Um concerto em tom de soundcheck ou ensaio. Irrepreensívelmente bem tocado, mas ao qual assistia uma desoladora plateia que nem com a execução de uma cover de Verse (Start a Fire) se excitou. Culpa do horário e do alinhamento, pensariam os mais optimistas. Não tanto.
Aos Mongoloids estavam, desde logo, subjacentes duas questões: a capacidade dos mesmos em dar sequer um concerto e, depois, a maneira como o fariam. A justificação é simples: esta é a banda que meses antes tinha... debandado. Rumores à parte, restou somente o vocalista. E, esta é, igualmente, a banda que, antes desta mesma tour europeia, lançou um comunicado cancelando uma série de concertos no seu país, devido a problemas internos que antevieram um fim anunciado desde os tempos da debandada. Mas, como banda profissional que mostraram ser, problemas houvessem, ninguém os adivinharia. Com um concerto iniciado com “True Colors”, os Mongoloids passaram em revista os seus melhores registos. “Alive and Well”, “Time Trials”, “Fading Away”, “Mongo Stomp” ou, ao fim, “Troubled Waters”, passando ainda pelo recente EP com a música que o intitula “New Begginings”, fizeram uma set list coesa e propícia a um bom espectáculo apenas arruinado pela ausência de público. Convenhamos, contudo, que os Mongoloids não são a banda mais conhecida em Portugal e, muito menos, a mais popular. Uma presença em palco intocável, cabendo especialmente ao vocalista e ao baixista da banda o epíteto de animais de palco. Bom... ou de chão, tendo em conta que foi lá que o vocalista actuou.
À quarta presença em Portugal os Death Before Dishonor terão presenciado a recepção mais fria que poderiam ter antecipado. Não por culpa de quem lá estava, mas mais por culpa de quem lá não estava. Quem lá não estava também, era um dos guitarristas da banda por estar a descansar do seu casamento com a vocalista dos Walls Of Jericho. Reza a lenda, que esse amor terá, inclusive, começado na noite em que os Death Before Dishonor tocaram com os Walls of Jericho na Caixa Económica Operária. Outra diferença para essa noite foi, como o próprio vocalista dos Death Before Dishonor confessou, a sua sobriedade. Sobriedade essa que não terá sido bem aceite pelos mecenas da plateia que, ao longo do set dos americanos, o abasteciam a sumo de cevada. Mas nem esse mesmo abastecimento terá feito a máquina Death Before Dishonor funcionar em pleno. Cansaço, ou não, a banda mostrou-se algo apática em palco, sem grande presença no mesmo. Verdade seja dia, a música da banda passa muito pela interação com o público. A quantidade de coros e back-vocals nas músicas, pede uma plateia participativa. E quando essa plateia é escassa, mesmo que participativa, o som da banda ressente-se. O set, aberto com “Born From Misery” de um dos anteriores álbuns da banda, foi relativamente focalizado no recente “Better Ways to Die” como seria de esperar. “Peace and Quiet”, “Remember” ou “Boys in Blue” marcaram presença no mesmo, tal como "Break Through it All", “Count Me In”, “Curl Up and Die”, “666 Friends, Family, Forever”, por exemplo, que levou a um muito pouco convincente anuncio de final de show. Se pudermos chamar-lhe assim, para o fim do encore estava guardada a invevitável “Boston Belongs To Me” – a conhecida cover dos Cock Sparrer – que promoveu a melhor adesão do público com, até, tentativas de stage dive.
Duas semanas depois dos gigantes Terror terem pisado o palco de Cacilhas – num ambiente bem diferente do da noite de 17 de Fevereiro – foi a vez de outra das grandes bandas do hardcore norte americano o fazer. O Revolver não terá presenciado muito mais de uma centena de pessoas que não terão conseguido gravar na memória das bandas americanas a sua passagem por Portugal este ano.
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